sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Hexagrama 27.I
Pátio de tarde
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Visita inesperada
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Milton Nascimento - aspectos de biografia
Travessia
Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant)
Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu canto, vou querer me matar
Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Fonte: YouTube (by: la' Music Stúdio)
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Depois da chuva
POÇAS D'ÁGUA
As poças d'água na calçada esburacada – não, isto não é um protesto: é, a seu modo, uma espécie de poema, que por sinal já saiu rimando... Fosse uma reclamação, eu a publicaria no "Correio do Leitor", seção competente onde cada um exerce o direito da sua opinião privada sobre a coisa pública. As poças d'água na calçada, como eu ia dizendo, são, em meio ao tráfego congesto, o único esporte que resta ao viandante na contingência de lhes saltar por cima ou devidamente contorná-las. Há velhinhas – quem diria? – que sabem transpô-las com infinita graça, equilibrando no alto a sombrinha como a moça do arame no circo. Há graves senhores pançudos, que o fazem cuidadosamente, eficientemente, com uma perfeição que justifica o seu status. E há também os sujeitos, nada pançudos, nada graves, antes pelo contrário, e que nos fazem lembrar os chamados “salta-pocinhas” do Segundo Império. Quanto às crianças, essas adoram as poças d'água... Nem é necessário alegar, a seu respeito, uma compulsiva comunhão com a natureza.
Comunhão com a natureza tive-a eu, quando uma noite caí de borco ao praticar esse esporte e fui parar no Pronto-Socorro, de nariz quebrado. A moça otorrino que gentilmente me atendeu mostrou-se preocupada com o meu vômer, que eu não sabia o que era. Explicou-me que se tratava do osso que dividia as fossas nasais. Quanto aos outros, os da ponta do nariz, eram os distais e, se fossem os vitimados, não tinha importância, pois acabariam acomodando-se por si mesmos.
Como vês, leitor amigo, a vida é assim: caindo e aprendendo... E, caso me ocorram outros acidentes, acabarei enfim sabendo anatomia, matéria que faz muito tempo que não estudei nos bancos escolares.
Mas o que me deixou mesmo mais eufórico foi ao ler no boletim clínico que toda aquela sangueira nas ventas tinha o nome de epistaxe. Epistaxe, meu Deus! Até parece uma figura de retórica...
As poças d'água são um mundo mágico
Um céu quebrado no chão
Onde em vez das tristes estrelas
Brilham os letreiros de gás Néon.
QUINTANA, Mario. In: Prosa e verso/Mario Quintana. 7ª ed. São Paulo, Globo, 1997, p. 147 e 148.
...os meninos, Mario querido, continuam a passar por sobre as poças d'água, mesmo você estando escondido nas dobras do tempo. Veja só. E eles são 10!
Saudades de você; viu? Ainda bem que você escreveu e eu aprendi a ler e a gostar de poesia.
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Imagem: Leda Lucas
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Angelus et Mariae

Anunciação
Artista: Sandro Botticelli (1445-1510)
Dados da obra: Cestello Annunciation - 1489-90
Tempera on panel, 150 x 156 cm
Galleria degli Uffizi, Florence
A pintura renascentista florentina, que se iniciara com artistas como Fra Angélico e Masaccio, adquiriu na segunda metade do século XV, com Botticelli, um caráter refinado, melancólico e elegante, afastado das buscas científicas do princípio do século.
Fonte: Google (http://www.wga.hu/index1.html)
IF...
E até hoje não me esqueci
Do Anjo da Anunciação no quadro de Botticelli:
Como pode alguém
Apresentar-se ao mesmo tempo tão humilde e cheio de tamanha dignidade?
Oh! tão soberanamente inclinado...
Se pudéssemos ser como ele!
Os Anjos dão tudo de si
Sem jamais se despirem de nada.
QUINTANA, Mario. In: Prosa e verso/Mario Quintana. 7ª ed. São Paulo, Globo, 1997, p. 126.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
O artista
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Muito além da história
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Encontro de amigos
A surpresa de ser
A florzinha
Crescendo
Subia
Subia
Direito
Pro céu
Como na História de Joãozinho e o Pé de Feijão.
Joãozinho era eu
Na relva estendido
Atento ao mistério das formigas que trabalhavam tanto...
E as nuvens, no alto, pasmadas, olhavam...
E as torres, imóveis de espanto, entre voos ariscos
Olhavam, olhavam...
E a água do arroio arregalava bolhas atônitas
Em torno de cada pedra que encontrava...
Porque todas as coisas que estavam dentro do balão azul daquela hora
Eram curiosas e ingênuas como a flor que nascia
E cheias do tímido encantamento de se encontrarem juntas,
Olhando-se...
Quintana, Mário (1906-1994). In: Prosa & Verso. São Paulo, Ed. Globo, 1997, 7ª ed. p. 122
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Saiba
Saiba
Compositor: Arnaldo Antunes
Saiba: todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Sadam Hussein
Quem tem grana e quem não tem
Saiba: todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu
Saiba: todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar
Saiba: todo mundo vai morrer
Presidente, general ou rei
Anglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano
Saiba: todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao Tsé Moisés Ramsés Pelé
Ghandi, Mike Tyson, Salomé
Saiba: todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet
e também eu e você
http://vagalume.uol.com.br/arnaldo-antunes/saiba.html
As árvores
As árvores são fáceis de achar
Ficam plantadas no chão
Mamam do sol pelas folhas
E pela terra
Também bebem água
Cantam no vento
E recebem a chuva de galhos abertos
Há as que dão frutas
E as que dão frutos
As de copa larga
E as que habitam esquilos
As que chovem depois da chuva
As cabeludas, as mais jovens mudas
As árvores ficam paradas
Uma a uma enfileiradas
Na alameda
Crescem pra cima como as pessoas
Mas nunca se deitam
O céu aceitam
Crescem como as pessoas
Mas não são soltas nos passos
São maiores, mas
Ocupam menos espaço
Árvore da vida
Árvore querida
Perdão pelo coração
Que eu desenhei em você
Com o nome do meu amor.
Letra: http://vagalume.uol.com.br/arnaldo-antunes/a-casa-e-sua.html
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Catavento flor
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Adélia Prado e Túlio Mourão
Em termos de literatura brasileira, o surgimento de Adélia representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, ainda que maternal, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa; por isso sendo considerada como a que encontrou um equilíbrio entre o feminino e o feminismo, movimento cujos conflitos não aparecem em seus textos. Professora por formação, exerceu o magistério durante 24 anos, até que sua carreira de escritora tornou-se sua atividade central. (wikipedia)
Túlio Mourão: Mineiro de Divinópolis, 55 anos, Túlio é senhor de uma curiosa e rica trajetória na música brasileira. Caleidoscópica diversidade o leva do rock dos Mutantes às partituras barrocas do filme "O viajante". Das Congadas de Minas ao “Free Jazz”, do Pannis Angelicus orquestrada para Milton Nascimento aos tambores ancestrais de Mandinga. A mesma diversidade o leva ainda a ser um compositor gravado por nomes tão expressivos quanto díspares: Maria Bethânia, Bob Berg, Zimbo Trio, Nara Leão, Milton Nascimento, Tavinho Moura, Jane Duboc, Eugênia Melo Castro, Ney Matogrosso, Anthonio, Tadeu Franco, Oswaldo Montenegro entre outros. Atualmente participa da curadoria de diversos projetos, como o Festival Internacional de Jazz de Ouro Preto - TUDO É JAZZ - e apresenta o programa NOTURNO, que vai ao ar na madrugada de sexta para sábado às 00:30h, na REDEMINAS. (www.tuliomourao.com.br e www.jazzmineiro.com.br)
Poemas
A CARNE SIMPLES
Na cama larga e fresca
um apetite de desespero no meu corpo.
Uivo entre duas mós.
Uivo o quê?
A mão de Deus que me mói e me larga na treva.
Na boca de barro, barro.
Quando era jovem
pedia cruz e ladrões pra guarnecer meus flancos.
Deus era fora de mim.
Hoje peço ao homem deitado do meu lado:
Me deixa encostar em você
pra ver se eu durmo. (p.221)
(Adélia Prado)
A SERENATA
Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa. Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
– só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa? (p. 82)
CINZAS
No dia do meu casamento eu fiquei muito aflita.
Tomamos cerveja quente com empadas de capa grossa.
Tive filhos com dores.
Ontem, imprecisamente às nove e meia da noite,
eu tirava da bolsa um quilo de feijão.
Não luto mais daquele modo histérico,
entendi que tudo é pó que sobre tudo pousa e recobre
e a seu modo pacifica.
As laranjas freudianamente me remetem a uma fatia de sonho.
Meu apetite se aguça, estralo as juntas de boa impaciência.
Quem somos nós entre o laxante e o sonífero?
Haverá sempre uma nesga de poeira sob as camas,
um copo mal lavado. Mas que importa?
Que importam as cinzas,
se há convertidos em sua matéria ingrata,
até olhos que sobre mim estremeceram de amor?
Este vale é de lágrimas.
Se disser de outra forma, mentirei.
Hoje parece maio, um dia esplêndido,
os que vamos morrer iremos aos mercados.
O que há neste exílio que nos move?
Digam-no os legumes sobraçados
e esta elegia.
O que escrevi, escrevi
porque estava alegre. (p.193)
Poemas: In: Prado, Adélia. Poesia reunida. São Paulo, Siciliano, 1991.