
A obsidiana é um vidro vulcânico
negro com o antracite, o ônix, o azeviche.
Antes de ser vidro, porém, foi lava ardente
pedra líquida
vômito das profundezas
válvula de escape
massa de bolo cru
concha de pedra que estala
revelando o seu recheio
que escorre ácido e fétido
como tumor que arrebenta.
Explosão de estupenda cor
jato feérico, pirotécnico
solta estrelas vivas
fogo de ouro
que cintila contra o céu que ferve
raivoso ao contato com o mar.
Quando por fim arrefece e se transforma em cinza
a obsidiana concentra-se
e do nada faz o seu diamante.
[O pavão negro, 2005]
Ana Hatherly. In: A idade da escrita E OUTROS POEMAS. Organização
e prólogo Floriano Martins. São Paulo, Escrituras, 2005, p. 94
Imagem: google
Poema: Ana Hatherly – digitado por Leda Lucas
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