segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Caruso e Quintana

Esconderijos do Tempo

Pela corola do gramofone

o Caruso cantava Una Furtiva Lagrima

e ninguém levava a mal aquele tom fanhoso,

talvez porque todo o mundo sabia que ele já estava morto.

Se alguém espiasse pela goela do gramofone,

poderia ver como era o Outro Mundo,

mas ninguém olhava porque devia ser muito, muito longe

a ponto de estragar o som daquela maneira.

E o pobre do Caruso cantava que te cantava afogado pelas águas do tempo

e por isso a sua voz era ainda mais pungente:

não é brinquedo estar morto e continuar cantando.

Caruso, eu estou pensando estas coisas não aqui e agora

mas naquele Café que tu sabes, lá por volta de 1923...

Também não é brinquedo continuar vivo e ficar falando para o que passou.


Quintana, Mario. In: Antologia Poética. RJ, Ediouro,

Coleção Prestígio, 4ª edição, pág. 83.



Vídeo: www.youtube.com

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