quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A uma mulher


"A uma mulher

Não tendo podido te criar
Nem tendo sido criado por ti
Eu me vingo do destino enxertando-me no teu ser.
Jamais conseguirás te libertar de mim
Porque eu te sitiei com a chama do amor,
Porque rondei durante dias e noites o Coração de Deus
A fim de extrair dele o segredo da ternura.
Todos os que te olham pensam logo em mim,
Todos os que me olham pensam logo em ti.
Eu sou tua cicatriz que nunca se há de fechar.
Eu te perseguirei até depois de minha morte
E virei a ti no murmúrio dos ventos, no lamento das ondas,
Na angústia e na alegria dos poetas meus sucessores,
Nas almas grandes limitadas ao físico.
Sentado nas nuvens eternas eu te esperarei
E me nutrirei através dos tempos da nostalgia de ti."

Murilo Mendes
(1901-1975)

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3 comentários:

J.Universo Soares disse...

Como brinca o meu pai, Murilo Mendes é nosso "subterrâneo". Essa paixão por uma mulher ou é amor maior? Só poderia ser escrita por um poeta mineiro e ainda por cima da minha terra "Xis de Fora".
Beleza!!!
universo

Leda Lucas disse...

Fora todos os nossos bairrismos este é um lindo poema.

Leda Lucas disse...

Demorei por responder a seu comentário sobre o poema À uma mulher de Murilo Mendes, porque havia uma questão sobre o amar que eu não conseguia formular em palavras próprias. Porém, hoje, relendo o capítulo sobre o self do livro O homem e seus símbolos encontrei um parágrafo que diz bem o que penso. Vejamos:
"(Na verdade, a paixão que excede os limites naturais do sentimento do amor tem como fim supremo o mistério da totalidade, e é por isto que quando se ama apaixonadamente tornar-se com o ser amado uma só pessoa é o único objetivo válido de nossa vida.)"
Há aí afirmações muito fortes, mas seguiremos refletindo sobre o papel do amor na vida de cada um.