quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Tecendo a manhã

(João Cabral de Melo Neto)

1


Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.



2


E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.


(A Educação pela Pedra)


Imagem: Leda Lucas

Posted by Picasa
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3 comentários:

J.Universo Soares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
J.Universo Soares disse...

Belas cores e belo registro. Essa foto foi um achado para ilustrar esse poema. Gostei dos dois.
Universo

Leda Lucas disse...

Muitos encontros surpreendentes em nossa vida! Este, sem dúvida, foi um deles.
Felizes Festas e dias de muito companheirismo.
Um abraço.
Leda