sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Pai e filho tocam e cantam MPB
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Arte na vida
Luis Fernando Verissimo - O Estado de S.Paulo – crônica publicada em 09/12/2011.
Seu Virgílio estava acostumado com turistas visitando a favela. Ele era o único que ficava em casa durante o dia e passava o tempo sentado na frente do barraco, de calção e camiseta, fumando seus cigarrinhos e vendo o movimento. O número de turistas aumentara depois da pacificação do morro. Os turistas vinham em bando. Alguns tinham até guias, que diziam aos turistas para onde olhar, e dizer "hum" ou "ah" ou "meu Deus". Mas aquele turista parecia diferente. Para começar, estava sozinho. E em vez de fotografar o esgoto, as roupas coloridas penduradas e as crianças brincando na lama, fotografava paredes. Paredes. Parara na frente do barraco do seu Virgílio, apontara a câmera para um trecho da madeira que forrava seu exterior e clic. E clic e clic.
Só depois do terceiro clic o fotógrafo se lembrou de perguntar ao seu Virgílio:
- Dá licença?
- Hrmf - respondeu seu Virgílio, o que poderia significar sim ou não.
- Estou fazendo um livro - explicou o fotógrafo. - Se chamará Superfícies. Será só de coisas como esta sua parede. Viu como este pedaço aqui poderia ser uma pintura abstrata? A madeira estriada, a superposição de tábuas... Poderia ser um Burri.
- Um quê?
- Burri. Alfredo Burri. Abstracionista italiano.
- Ahn.
- Esta favela está cheia de coisas assim. Há Burris por todo lado. É só saber encontrá-los. E colagens? Materiais corriqueiros usados de forma não convencional, em montagens surpreendentes e esteticamente perfeitas. O que é uma favela, afinal, senão uma grande colagem? Arte pura! Vocês vivem cercados pela arte.
Seu Virgílio perguntou se o fotógrafo poderia lhe dar um cigarro. O fotógrafo não fumava. Depois de mais alguns clics o fotógrafo agradeceu e começou a se afastar, mas aí deu uma coisa no seu Virgílio. Uma coisa que ele mesmo não saberia explicar depois. Deteve o fotógrafo com um gesto e disse:
- O senhor não quer entrar? Tem uma mancha na parede da cozinha que...
A pequena cozinha era a única parte do barraco feita de alvenaria. E havia uma grande mancha na parede da cozinha.
Uma grande mancha multicolor causada pela umidade e por muitos anos de fritura no ar. Seu Virgílio apontou a mancha para o fotógrafo, que abriu os braços e exclamou:
- Manabu Mabe!
Seu Virgílio também não saberia explicar por que ficara tão feliz por ter um Manabu Mabe na parede, mesmo um Manabu Mabe feito de água infiltrada e fumaça. Nem iria contar para a Ernestina quando ela e os cinco filhos voltassem àquela noite. Sabia que Ernestina perguntaria "Manaquem?!" e diria "Isso é que dá passar o dia inteiro sem fazer nada". Guardaria aquela felicidade só para ele. Gostara de ouvir do fotógrafo que eles viviam cercados pela arte. Não era só miséria. Ou então, pensou seu Virgílio, eu também estou ficando meio abstracionista.
Imagem: Leda Lucas
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Natal: preparação espiritual
Rubem Alves
Minhas netas: o Natal está chegando. Todo mundo fica agitado, é preciso comprar presentes no cartão de crédito, fazer dívidas a serem pagas no outro ano, preparar comilanças... Mas, afinal de contas, por que tanto agito? Eu acho que a maioria se agita sem saber porque. E, se soubessem, não se agitariam... Pois eu vou dizer o que penso do por que do Natal. O Natal é o dia em que se para tudo a fim de se contar e a fim de se ouvir uma estória, a mais bela e a mais simples jamais contada. Todo esse agito por causa de uma estória? É. Vocês, que gostam do Harry Potter, fiquem sabendo: a estória do Natal é uma estória do mundo dos mágicos, dos bruxos, das fadas, das varinhas de condão, dos encantamentos. As estórias têm poderes mágicos. Vocês já notaram que, quando a gente ouve uma estória que nos comove, ela entra dentro da gente, faz a gente rir, faz a gente chorar, faz a gente amar, faz a gente ficar com raiva? As estórias dos mundos dos mágicos saltam das páginas dos livros onde estão escritas, entram dentro da gente e se alojam no coração. Quando isso acontece a estória fica viva, toma conta do nosso corpo e da nossa alma, e nós passamos a ser parte dela. Pois a estória do Natal faz isso com a gente. Quando vai chegando o Natal eu fico com saudade das músicas antigas de Natal (tem de ser das antigas; as modernas não servem) e começo a folhear meus livros de arte, onde estão as pinturas do presépio. É muito simples: um menininho que nasceu em meio aos bois, vacas, ovelhas, cavalos, jumentos... Era menininho pobre. Mas diz a estória que quando ele nasceu aconteceu uma mágica com o mundo: tudo ficou diferente: as árvores se cobriram de vaga-lumes, as estrelas brilharam com um brilho mais forte, e até uns reis deixaram os seus palácios e foram ver o nenezinho. A visão do menininho os transformou: eles largaram suas coroas, jóias e mantos de veludo junto com os bichos, na estrebaria. Quem vê o menininho fica curado de perturbação. Perturbados são os adultos que, ao falar sobre Deus, imaginam um ser muito grande, muito poderoso, muito terrível, ameaçador, sempre a vigiar o que fazemos para castigar. Pois o Natal diz que isso é mentira. Porque Deus é uma criancinha. Ele está muito mais próximo de vocês do que dos adultos. E foi essa mesma criancinha que, depois de crescida, disse que para estar com Deus bastava voltar a ser criança. Se os adultos, antes de comprar presentes e preparar ceias, se lembrassem da estória, eles ficariam curados da sua doidice. Na noite do Natal que se aproxima, antes de abrir os presentes, antes de começar a comedoria, peça ao seu pai ou à sua mãe: “Por favor, conte a estória do menininho..." E, se eles não souberem contar, peça que eles leiam esse poema sobre o Menino Jesus escrito por um poeta que queria ser menino, por nome de Alberto Caeiro.
Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver.
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro.
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta.
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales.
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
(Correio Popular, Caderno C, 16/12/2001.)
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Vídeo bomba ! Amaury desmascara Cerra e FHC | Conversa Afiada
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Erva-de-santa Luzia
luza os caminhos
destes passantes
Trazendo-lhes serena alegria!
Prece: Leda Lucas
Paisagem noturna
domingo, 4 de dezembro de 2011
TEDxUSP - Agnaldo Farias - Entre Homero e Platão
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Boni confessa manipulação do debate Lula x Collor
Tarde de primavera
Delicadeza
Nos restos do dia
encontro cores (con)-
-formam um fazer
Doem em mim os desperdícios
O sol fica do outro lado
Imagem: Leda Lucas
Poema: Leda Lucas
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terça-feira, 22 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
Indagações 1
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Poetas, seresteiros, namorados...
terça-feira, 8 de novembro de 2011
XLVIII
“Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.
E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.
Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?
Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.
Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo”.
(Alberto Caieiro). In: Fernando Pessoa. O Eu profundo e os outros eus: seleção poética de Afrânio Coutinho. 5ª ed., Rio de Janeiro, J. Aguilar, 1976.
Imagem: Leda Lucas
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sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Tom Waits - You Can Never Hold Back Spring
Johnny Cash/Tom Waits Down there by the train cover Harry de
Enviado por Harrydevisser em 17/03/2008
Love this song, and it's so pure!
Categoria:
Música
Palavras-chave:
Jhonny Cash Tom Waits Down there by the train cover Harry de Visser Harrydevisser
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quinta-feira, 3 de novembro de 2011
A Marca dos Homens
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Madredeus - Alfama (HQ)
Lyrics by Pedro Ayres Magalhães
Music by Pedro Ayres Magalhães & Rodrigo Leão
Agora,
que lembro,
As horas ao longo do tempo;
Desejo,
Voltar,
Voltar a ti,
desejo-te encontrar;
Esquecida,
em cada dia que passa,
nunca mais revi a graça
dos teus olhos
que eu amei.
Má sorte,
foi amor que não retive,
e se calhar distrai-me...
- Qualquer coisa que encontrei.
À Carlos Drummond de Andrade

O Elefante
Carlos Drummond de Andrade
Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
e é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.
Eis meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.
Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há na cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.
Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.
E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
e as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.
(In: A Rosa do Povo)
Os poemas de que gosto são tantos e, devido a isto, escolhi este.
domingo, 30 de outubro de 2011
São Francisco: rioceano
- – entrevista de João Guimarães Rosa a Giinter Lorenz, em janeiro de 1965, citado em "Uma cantiga de se fechar os olhos --": mito e música em Guimarães Rosa – Página 74, de Gabriela Reinaldo - Publicado por Annablume, 2005.
- Imagem: Leda Lucas, em Penedo, no estado de Alagoas.
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Imagem e Palavra - Constança Lucas: Uma linha pelo mundo
sábado, 29 de outubro de 2011
No meio do caminho
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Vestígios dos dias
(Trecho de Memória de Minhas Putas Tristes, p. 75.)
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Trecho do filme sul-coreano "Poesia" de Lee Chang-Dong
Enviado por davilira em 18/11/2010
POESIA (Shi), Lee Chang-Dong
Coréia do Sul - 2010
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- Lee Chang-Dong
- Jeong-hee Yoon
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domingo, 16 de outubro de 2011
Os poetas
sábado, 15 de outubro de 2011
Discurso do Prof. Dr. Antonio Candido
domingo, 9 de outubro de 2011
Materiais da vida
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
A espera
Multidão
Mais que as ondas do largo oceano
e que as nuvens nos altos ventos,
corre a multidão.
Mais que o fogo em floresta seca,
luminosos, flutuantes, desfrisados vestidos
resvalam sucessivos,
entre as pregas, os laços, as pontas soltas
dos embaralhados turbantes.
Aonde vão esses passos pressurosos, Bhai?
A que encontro? a que chamado?
em que lugar? por que motivo?
Bhai, nós que parecemos parados,
por acaso estaremos também,
sem o sentirmos,
correndo, correndo assim, Bhai, para tão longe,
sem querermos, sem sabermos para onde,
como água, nuvem, fogo?
Bhai, quem nos espera, quem nos receberá,
quem tem pena de nós,
cegos, absurdos, erráticos,
a desabarmos pelas muralhas do tempo?
(Cecília Meireles)
In: Poesia Brasileira – Doze Noturnos de Holanda e outros poemas. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986, ps. 75 e 76.