quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A espera

Multidão


Mais que as ondas do largo oceano

e que as nuvens nos altos ventos,

corre a multidão.


Mais que o fogo em floresta seca,

luminosos, flutuantes, desfrisados vestidos

resvalam sucessivos,

entre as pregas, os laços, as pontas soltas

dos embaralhados turbantes.


Aonde vão esses passos pressurosos, Bhai?

A que encontro? a que chamado?

em que lugar? por que motivo?


Bhai, nós que parecemos parados,

por acaso estaremos também,

sem o sentirmos,

correndo, correndo assim, Bhai, para tão longe,

sem querermos, sem sabermos para onde,

como água, nuvem, fogo?


Bhai, quem nos espera, quem nos receberá,

quem tem pena de nós,

cegos, absurdos, erráticos,

a desabarmos pelas muralhas do tempo?


(Cecília Meireles)

In: Poesia Brasileira – Doze Noturnos de Holanda e outros poemas. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986, ps. 75 e 76.


Imagem: Leda Lucas
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