Água Viva
"Estou dentro dos grandes sonhos da noite: pois o agora-já é de noite. E canto a passagem do tempo: (...) Minha aura é mistério de vida.
(...) O mundo: um emaranhado de fios telegráficos em eriçamento. E a luminosidade no entanto obscura: esta sou eu diante do mundo.
(...) A noite de hoje me olha com entorpecimento, azinhavre e visgo. Quero dentro desta noite que é mais longe que a vida, quero, dentro desta noite, vida crua e sangrenta e cheia de saliva. Quero a seguinte palavra: esplendidez, esplendidez é a fruta na sua suculência, fruta sem tristeza. Quero lonjuras. Minha selvagem intuição de mim mesma. Mas o meu principal está sempre escondido. Sou implícita."
Clarice Lispector. In: Água Viva. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, 4ª ed., págs. 24 e 25.
Imagem: Leda Lucas
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