segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ambrosia


Doce pronúncia e anúncio de afetividades. Como se fosse possível nominar esta sensação que toma o meu dentro e combina uma melodia sutil vinda do âmago que busca sentir na língua o doce da palavra exata até atingir alturas.
E uma vez lá, difundir o prazer de realizar o amálgama que há dentro do invisível.
E por esta palavra, salve Mario Quintana!

Imagem: google
Texto: Leda Lucas

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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Festa de aniversário


Das flores doadas

ramo folhas pétalas

sobrantes


Angélica

boca-de-leão

dália

gérbera:

gira o Sol


Folha de rosa

vermelha

santa Teresinha

:minúcias do dia


Leda

terça-feira, 21 de julho de 2009

Um ipê no bairro





É inverno no hemisfério Sul e espalhados pela cidade os ipês preparam-se para a chegada das flores.
Este em minha rua está repleto de minúsculos botões a prometer ouro.
Aguardemos pois, a festa.

Leda
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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Olho de mina

… o prateado da pele d’água confundiu-me tanto! Distante a lembrança vaga de seus olhos cor do rio; um brilho que não recordo se seu ou do céu.

Um voo tranquilo por algum tempo.

Um colibri equilibrou-se no centro do aguapé quase azul. Minúsculos peixes ao redor. Uma folha desprendeu-se do galho à beira, depois dançou, balançou forte; em seguida, entrou no redemoinho, aquietou-se, e seguiu o curso.

Uma borboleta azul acompanhou-nos longo tempo. Um cheiro de mel, intenso, trouxe lembranças novas e antigas.

Leda

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Noites juninas

Era ao redor da fogueira nos dias dos santos do mês de junho (Antonio, João, Pedro e Paulo). Lá de longe, descendo o morro, vinham vindo todos eles. Uns na frente, outros juntinhos no centro do grupo; um cachorro na frente de todos. E vinham descendo; as mulheres balançavam a saia rodada; a avó, passos curtos, presos pela saia um pouco menos, preta.

No rosto, a alegria rosada do pó-de-arroz batido à almofada rosa e do rouge com cheiro a guardado muito, pois faltava ocasião para abrir o potinho com estampa de moça na tampa. Mas o rosto. O rosto era sempre vermelho de sol ou pudor.

Vinham hoje para a fogueira na casa de alguém a quem por alguma razão estavam ligados e saíram de casa quando o sol entrava para o amanhã. Tinha iluminado tanto as dálias, de todas as cores, e as rosinhas de santa Terezinha!!! A cerca de bambu ganhou cor de ouro na tarde do santo. E nos campos, ao longo do caminho, as ervas-de-são-joão douravam todo o pasto. Era um zum-zum permanente o voo das abelhas europeias a colher o néctar do futuro mel.

Agora já se ouvia as vozes lá da casa, e avistava-se o ir e vir das mulheres envolvidas com as quitandas: biscoito de polvilho, cubu, rosquinha na forma de serpentes – S – sabendo-se celestes.

A água já fervia na trempe há horas para o quentão a animar o pagode ao som de sanfona, viola, reco-reco, cantos; às vezes um cavalo punha dentro da coberta a cabeça e cheirava o ar quente de corpos e som.

O bambu para o enfeite dos portais quedava-se folhas murchas dado o calor do dia. Mas se refariam à noite, quem sabe, sob a lua.

As crianças corriam ao redor da fogueira até ficarem zonzas de beleza e novidade. Os moços faziam mesuras de oferendas. Os adultos contariam causos, e, mostravam valentia passando descalços sobre a brasa da fogueira ainda acesa. Os velhos distribuiriam salvação ou trariam lágrimas à face de saudade de “meus tempos”.

Suas roupas eram a melhor que tinham para a festa do São João. E dançavam a quadrilha, todos, de mãos dadas no centro do mundo.

Leda

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Inauguração

A chuva no dia claro
sertão esverdeou inteiro
na copa do buritizeiro fogo-apagou
pia seu canto e nos cantos
da cidade arranjos de flor e cabelo

A moça lábios vermelhos
a mãe amara severa
entreolha ramo e gamo
no ar festivo da tarde

O pai esbravejou roncou
o corpo magro tostado
do sol da lida

A festa foi tanta e
a tonta moça rodou
saia e roda
deram a ela o tom.

Leda

sábado, 4 de julho de 2009

Paineira na noite

Nos galhos suspensos - e agora sem folhas

alheia ao sono dos passantes a seiva

escorre líquido invisível

no seu e meu existir


'inda há pouco róseos tons das pétalas

sobre e sob fluorescente luz

no corpo dos que viajam

seus dias nos coletivos

urbanos até os arrabaldes.



Mas o homem é forte!


Às vezes chora

o cansaço

a distância

a diária luta

e sua saudade.


Leda