quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Exposição Matizes Dumont

Posto aqui palavras de Maria Sílvia, uma minha amiga de Belo Horizonte:

"Repasso com orgulho o trabalho das primas de Pirapora:
bordados de Marilu, Sávia, Marta, Ângela e filhas, sobre desenhos de Demóstenes.
Saúde e alegria no ano novo!"
MS

'Oi pessoal, vejam novo vídeo, agora da tvzo
A TVZO esteve na Caixa Cultural e gravou cenas da exposição.
beijos
Marilu''.

Com arte e a alegria do fazer sigamos escolhendo a linha para o fazer de cada um.
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Original African Guitar Excellence

Zaiko & Ali Farka Toure

Para celebrar mais este ano de 2010 ao som e imagens da música vindas da Mama África!
Viva a beleza em todos nós.
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Encontros à tarde

"Tu não percebes onde está o erro?
Não, eu não descobria."
"[...]
– Foi isso que se passou comigo naquela época, e ainda sinto um pouco de vergonha ao aludir a esse fato. Mas o caso é este, José: quanto mais exigirmos de nós próprios, ou a nossa ocupação exigir de nós, tanto mais devemos nos aproximar dessa fonte de energias que é a meditação, dessa sempre renovada conciliação de espírito e alma. E eu poderia exemplificar de várias maneiras o que digo – quando uma ocupação exige toda a nossa atenção, ora nos excitando e animando, ora nos fatigando e abatendo, é que mais facilmente nos esquecemos dessa fonte, assim como ao nos aprofundarmos em uma atividade do espírito somos facilmente inclinados a esquecermo-nos do corpo e dos cuidados que ele requer. Todos os grandes homens da história, todos aqueles que realmente o foram, sabiam meditar ou conheciam inconscientemente o caminho aonde nos leva a meditação. Os outros homens, mesmo os mais dotados e enérgicos finalmente desistiram ou fracassaram, porque sua tarefa ou um sonho ambicioso se apossou deles, tornando-os fanáticos, e eles perderam a faculdade de se desligar da atualidade e distanciar-se dela. Bem, tu já sabes disso desde a primeira prática que fizeste. esse fato é profundamente verdadeiro, e é inapelável. Só o percebemos quando não encontramos mais o nosso caminho."
Hermann Hesse. O jogo das contas de vidro. Tradução: Lavínia Abranches Viotti e Flávio Vieira de Souza. São Paulo, Editora Brasiliense, 7ª edição págs. 74 e 75.
Imagem: Leda Lucas
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Tecendo a manhã

(João Cabral de Melo Neto)

1


Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.



2


E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.


(A Educação pela Pedra)


Imagem: Leda Lucas

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Je Vous Salue Sarajevo


Vídeo de Jean-Luc Godard sobre a cultura e a arte exibido na Bienal de 2010, em São Paulo, e filmado por mim com uma câmera digital.

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Na Bienal de 2010



Vídeo de Jean-Luc Godard exibido na Bienal 2010, em São Paulo, sobre a cultura e a arte. Narrado em francês com legendas em inglês.

MacOistigan | 28 de agosto de 2007

Jean-Luc Godard

Categoria:

Filmes e desenhos

Palavras-chave:

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

No interior da Bienal

"[...] a fenomenologia da imaginação poética permite-nos explorar o ser do homem como o ser de uma superfície, da superfície que separa a região do mesmo e a região do outro. Não esqueçamos que, nessa zona de superfície sensibilizada, antes de ser é preciso dizer. Dizer, se não aos outros, pelo menos a si mesmo. E sempre avançar. Nessa orientação, o universo da palavra comanda todos os fenômenos do ser – os fenômenos novos, bem entendido. Pela linguagem poética, ondas de novidade correm sobre a superfície do ser. E a linguagem traz em si a dialética do aberto e do fechado. Pelo sentido, ela se fecha; pela expressão poética, ela se abre.
[...], na superfície do ser, nessa região em que o ser quer se manifestar e quer se ocultar, os movimentos de fechamento e abertura são tão numerosos, tão frequentemente invertidos, tão carregados de hesitação, que poderíamos concluir com esta fórmula: o homem é o ser entreaberto.
[...], quantos devaneios seria preciso analisar sob esta simples menção: A Porta! A porta é todo um cosmos do Entreaberto.
[...] Por que não sentir que na porta está encarnado um pequeno deus dos umbrais? [...] Porfírio disse bem: 'O umbral é uma coisa sagrada.'"
Gaston Bachelard. A Poética do Espaço. Tradução: Antonio de Pádua Danesi. São Paulo, Martins Fontes, 2003, págs. 224 e 225.
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Imagem: Leda Lucas
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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Dias felizes


Mon amie la rose, Francoise Hardy

video de francoise hardy

Categoria:

Música

Palavras-chave:

Fonte: starsgoneout | 25 de fevereiro de 2006
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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Karajan - Ultimo Concerto - Wagner Liebestod

Questo concerto è da considerarsi come il canto del cigno di Karajan. Il maestro morì poco meno di un anno dopo... Em 16 de julho de 2007.


olaig100 | 17 de outubro de 2007


Desculpem-me o excesso! É que esta voz, estas mãos, estes seres: a música!

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Sentimento de gratidão



Este vídeo foi gravado do banco traseiro do carro do Sérgio, enquanto voltávamos (Sérgio, papai, Fátima, Luíza e eu) para casa, após um dia muito alegre na casa da Norma e do Paulo, onde fomos comemorar os quinze anos de existência da Guaru-Lok com quase todos os funcionários da empresa presentes.
O dia foi memorável e este vídeo é para contar dos meus sentimentos de gratidão a todas as minhas irmãs e irmãos, sobrinhas e sobrinhos, sobrinha-neta e sobrinhos-netos.
Ao meu pai que insiste em manter-se alegre e firme em nossas vidas.
À minha querida e eterna mãe que está em cada um de nós com sua fortaleza e silêncio.
Ao meu querido Zé Carlos.
Ao meu filho Victor.
Às minhas amigas e aos amigos.
À Lua e Clara – presença felina constante em meus dias.
A todas e todos.

Vídeo: Leda Lucas
Canção: a completar os dados
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A LUA GIROU

Milton em belíssima interpretação.

Categoria:

Música

Palavras-chave:


Mardosom - 27 de abril de 2008

A Lua Girou

Milton Nascimento

Composição: Milton Nascimento

A lua girou

A lua girou, girou
Traçou no céu um compasso
A lua girou, girou
Traçou no céu um compasso

Eu bem queria fazer um travesseiro dos seus braços
Eu bem queria fazer...

Travesseiro dos meus braços
Só não faz se quiser
Um travesseiro dos meus braços
Só não faz se não quiser...

Sustenta palavra de homem
Que eu mantenho a de mulher
Sustenta a palavra de homem...
Que eu mantenho a de mulher

A lua girou, girou
Traçou no céu um compasso
A lua girou, girou
Traçou no céu um compasso

Eu bem queria fazer um travesseiro dos seus braços
Eu bem queria fazer...

http://letras.terra.com.br/milton-nascimento/112695/

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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Jessye Norman - A Portrait - Isoldes Liebestod (Wagner)


Jessye Norman - A Portrait - Isoldes Liebestod (Wagner)

Categoria:

Música

Palavras-chave:


texmex0303 | 27 de março de 2008

Para celebrar toda música e beleza na voz de Jessye Norman cantando A Portrait - da ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner, sob a batuta do maestro Herbert von Karajan.

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Trilha estreita

quantas memórias
me trazem à mente
cerejeiras em flor

"samazama no
koto omoidasu
sakura ka na"

O haikai como hoje é conhecido "deriva do clássico tanka, poema japonês de 31 sílabas. Essa divisão gerou o costume de os poetas reunirem-se para elaborar coletivamente os poemas: um criava a primeira parte e outro a segunda. Assim, ludicamente se engendravam longas séries de versos que foram denominados renka. Com o tempo, a primeira parte do tanka, de 5, 7 e 5 sílabas, adquiriu autonomia dispensando a segunda. Estes poemas curtos e satíricos, repletos de jogos de palavras, ficaram famosos em todo o Japão sob o nome de renka haikai, ou simplesmente, haikai."
Um amigo de Basho (Matsuo Basho), chamado Sengin, morre inesperadamente em 1666, e Basho, tendo perdido seu grande amigo e protetor", escreveu o haikai acima (em japonês), traduzido em nossa língua por Kimi Takenaka e Alberto Marsicano, no livro Trilha Estreita ao Confim, da Editora Iluminuras, publicado em 1997, à página 8.
Imagem: Leda Lucas
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Carla Caruso: Ah! ser peixe ser ave

Carla Caruso: Ah! ser peixe ser ave

Em dias de tanto acontecimento; tonta ser...

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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Convite de exposição de Fotografias no Maria Antonia



Nesta próxima sexta-feira, dia 03/12, acontecerá a abertura da Exposição de Fotografias dos cursos 1 e 2, sob a supervisão de Bete Savioli e assistência de Camila de Paz no Instituto Maria Antonia, e eu participarei com algumas fotografias da série Janelas.

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Convite exposição



Este é o convite para a exposição da obra "pintura" dos espelhos, da artista Audrey Landell, marcenaria com madeiras nobres recolhidas de caçambas de Pedro Ranciaro e fotografias que fiz acompanhando momentos de elaboração da obra.
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Devaneios do infinito

"Essa é minha floresta ancestral. Tudo o mais é literatura."
Gaston Bachelard
"Em L'amoureuse initiation (p. 64), Milosz escreve: 'Eu contemplo o jardim de maravilhas do espaço com o sentimento de olhar o mais profundo, o mais secreto de mim mesmo; e sorria, pois nunca me imaginara tão puro, tão grande, tão belo! Em meu coração irrompeu o canto de graça do universo. Todas essas constelações são tuas, estão em ti; não têm qualquer realidade fora do teu amor! Ah, como o mundo parece terrível para quem não se conhece! Quando te sentires sozinho e abandonado diante do mar, imagina como devia ser a solidão das águas na noite, e a solidão no inverno sem fim!' E o poeta continua esse dueto de amor do sonhador com o mundo, fazendo do mundo e do homem duas criaturas esposadas, paradoxalmente unidas no diálogo de sua solidão.
Em outra página, numa espécie de meditação-exaltação, unindo os dois movimentos que concentram e dilatam, Milosz escreve (op. cit., p. 151): 'Espaço, espaço que separa as águas, meu alegre amigo, como te aspiro com amor! Eis-me, pois, como a urtiga florida ao sol ameno das ruínas, e como o calhau no gume da fonte, e como a cobra no calor do capim! O quê? O instante será realmente eternidade? A eternidade será realmente instante?' E a página prossegue ligando o ínfimo ao imenso, a urtiga branca ao céu azul. Todas as contradições agudas, como o calhau cortante e a água clara, são assimiladas, aniquiladas, no momento em que o ser que sonha ultrapassa a contradição entre o pequeno e o grande. Esse espaço de exaltação transpõe qualquer limite (p. 155): 'Desabem, limites sem amor dos horizontes! Apareçam, distâncias verdadeiras!' E na página 168: 'Tudo era luz, doçura, sabedoria; e no ar irreal o distante acenava para o longínquo. Meu amor envolvia o universo.'"
Gaston Bachelard. A Poética do Espaço. Tradução: Antonio de Pádua Danesi. São Paulo, Martins Fontes, São paulo, 2003, ps. 194 e 195.
Imagem: Leda Lucas (vista do mirante da Ilha Porchat, em São Vicente - SP)
Texto: Gaston Bachelard, com citações sobre o autor Milosz.
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Do amor à linguagem


Esta fotografia é de Steve McCurrie, o mesmo autor da foto da menina e depois mulher afegã, que foi capa da National Geografic, e admirada pelo mundo todo.
Aqui tem-se um homem que, enquanto aguarda o cliente, mergulha no universo da leitura.
Em um ensaio intitulado Sobre os Clássicos, Jorge Luis Borges escreveu:
"Clássico é aquele livro que uma nação ou o largo tempo decidiram ler como se em suas páginas tudo fosse deliberado, fatal, profundo feito o cosmos e sujeito a interpretações sem fim." (Jorge Luis Borges).
E no conto La biblioteca de Babel, que foi publicado pela primeira vez em El jardin del senderos que se bifurcan (1942) e está incluido desde 1944 em Ficciones, a primeira linha do conto é suficientemente explícita:
O universo (que outros chamam biblioteca)...

Para falar do amor à escritura, à leitura, aos livros.

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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

'The Soul Of A Man'

BLIND WILLIE JOHNSON (1930) Gospel Blues Guitar Legend

O outro poema dos dons

Jorge Luis Borges

.
Graças quero dar ao divino
labirinto dos efeitos e das causas
pela diversidade das criaturas
que formam este singular universo,
pela razão, que não cessará de sonhar
com um plano do labirinto,
pelo rosto de Helena e a perseverança de Ulisses,
pelo amor que nos deixa ver os outros
como os vê a divindade,
pelo firme diamante e a água solta,
pela álgebra, palácio de precisos cristais,
pelas místicas moedas de Angel Silésio,
por Schopenhauer
que decifrou talvez o universo,
pelo fulgor do fogo
que nenhum ser humano pode olhar sem um assombro antigo,
pelo acaju, o cedro e o sândalo,
pelo pão e o sal,
pelo mistério da rosa
que prodiga cor e não a vê,
por certas vésperas e dias de 1955,
pelos duros tropeiros que, na planície,
arreiam os animais e a alba,
pela manhã em Montevideu,
pela arte da amizade,
pelo último dia de Sócrates,
pelas palavras que foram ditas num crepúsculo
de uma cruz a outra cruz,
por aquele sonho do Islão que abarcou
mil noites e uma noite,
por aquele outro sonho do inferno,
da torre do fogo que purifica
e das esferas gloriosas,
por Swedenborg,
que conversava com os anjos nas ruas de Londres,
pelos rios secretos e imemoriais
que convergem em mim,
pelo idioma que, há séculos, falei em Nortúmbria,
pela espada e a harpa dos saxões,
pelo mar que é um deserto resplandecente
e uma cifra de coisas que não sabemos
e um epitáfio dos vikings,
pela música verbal da Inglaterra,
pela música verbal da Alemanha,
pelo ouro que reluz nos versos, pelo épico inverno,
pelo nome de um livro que não li: Gesta Dei per Francos,
por Verlaine, inocente como os pássaros,
pelo prisma de cristal e o peso de bronze,
pelas riscas do tigre,
pelas altas torres de S. Francisco e da ilha de Manhattan,
pela manhã no Texas,
por aquele sevilhano que redigiu a “Epístola Moral”
e cujo nome, como ele teria preferido, ignoramos,
por Séneca e Lucano, de Córdova,
que antes do espanhol escreveram
toda a literatura espanhola,
pelo geométrico e bizarro xadrez,
pela tartaruga de Zenão e o mapa de Royce,
pelo odor medicinal dos eucaliptos,
pela linguagem, que pode simular a sabedoria,
pelo esquecimento, que anula ou modifica o passado,
pelo costume,
que nos repete e confirma, como um espelho,
pela manhã, que nos depara a ilusão de um princípio,
pela noite, sua treva e sua astronomia,
pelo valor e a felicidade dos outros,
pela pátria, sentida nos jasmins
ou numa velha espada,
por Whitman e Francisco de Assis, que já escreveram o poema,
pelo facto de que o poema é inesgotável
e se confunde com a soma das criaturas
e jamais chegará ao último verso
e varia segundo os homens,
por Frances Haslam, que pediu perdão a seus filhos
por morrer tão devagar,
pelos minutos que precedem o sonho,
pelo sonho e a morte,
esses dois tesouros ocultos,
pelos íntimos dons que não enumero,
pela música, misteriosa forma do tempo.

Jorge Luis Borges, Nova Antologia Pessoal. Tradução: Rolando Roque da Silva. Difel, 1982, ps. 33 a 35

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Dark was the night...

Blind Willie Johnson

Poema dos Dons

Jorge Luis Borges

Ninguém rebaixe a lágrima ou rejeite
Esta declaração da maestria
De Deus, que com magnífica ironia
Deu-me a um só tempo os livros e a noite.

Da cidade de livros tornou donos
Estes olhos sem luz, que só concedem
Em ler entre as bibliotecas dos sonhos
Insensatos parágrafos que cedem

As alvas a seu afã. em vão o dia
Prodiga-lhes seus livros infinitos,
Árduos como os árduos manuscritos
Que pereceram em Alexandria.

De fome e de sede (narra uma história grega)
Morre um rei entre fontes e jardins;
Eu fatigo sem rumo os confins
Dessa alta e funda biblioteca cega.

Enciclopédias, altas, o Oriente
E o Ocidente, centúruias, dinastias,
Símbolos, cosmos e cosmogonias
Brindam as paredes, mas inutilmente.

Em minha sombra, o oco breu com desvelo
Investigo, o bácuo indeciso,
Eu, que me figurava o Paraíso
Tendo uma biblioteca por modelo.

Algo, que por certo não se vislumbra
No termo acaso, rege, estas coisas;
Outro já recebeu em outras nebulosas
Tardes os muitos livros e a penumbra.

Ao errar pelas lentas galerias
Sinto às vezes com vago horror sagrado
Que sou o outro, o morto, habituado
Aos mesmos passos e nos mesmos dias.

Qual de nós dois escreve este poema
De uma só sombra e de um eu plural?
O nome que me assina é essencial,
Se é indiviso e uno esse anátema?

Groussac ou Borges, olho este querido
Mundo que se deforma e que se apaga
Numa empalidecida cinza vaga
Que se parece ao sonho e ao olvido.

Livro Jorge Luis Borges, Obras Completas II, Ed. Globo.
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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Estes fios soltos

DA HUMILDE VERDADE
O quotidiano é o incógnito do mistério.
Mario Quintana, Sapato Florido – Edição Especial. Porto Alegre, Editora da Universidade/ UFRGS, 1994, 69.
Imagem: Leda Lucas
Poema: Mario Quintana
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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Das vantagens de ser bobo

Das vantagens de ser bobo

– O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.
– O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando”.
– Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
– O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.
– Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
– O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
– O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
– Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
– Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
– O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem nota que venceu.
– Aviso: não confundir bobos com burros.
– Desvantagem: pode receber punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a frase célebre: “Até tu, Brutus?”
– Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
– Os bobos, com suas palhaçadas, devem estar todos na cruz.
– O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
– Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
– Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida.
– Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
– Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, como tolo, como fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita o ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
– Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
– É quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Clarice Lispector. In: A Descoberta do Mundo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984, p.483

Imagem: Leda Lucas
Texto: Clarice Lispector

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A Noite de Meu Bem



A noite de meu bem
Dolores Duran
Composição: Dolores Duran

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de irmãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah, eu quero o amor, o amor mais profundo
Eu quero toda beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de irmãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem

Ah, como este bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda pureza que eu quero lhe dar

Dolores Duran
(1930-1959)

A uma mulher


"A uma mulher

Não tendo podido te criar
Nem tendo sido criado por ti
Eu me vingo do destino enxertando-me no teu ser.
Jamais conseguirás te libertar de mim
Porque eu te sitiei com a chama do amor,
Porque rondei durante dias e noites o Coração de Deus
A fim de extrair dele o segredo da ternura.
Todos os que te olham pensam logo em mim,
Todos os que me olham pensam logo em ti.
Eu sou tua cicatriz que nunca se há de fechar.
Eu te perseguirei até depois de minha morte
E virei a ti no murmúrio dos ventos, no lamento das ondas,
Na angústia e na alegria dos poetas meus sucessores,
Nas almas grandes limitadas ao físico.
Sentado nas nuvens eternas eu te esperarei
E me nutrirei através dos tempos da nostalgia de ti."

Murilo Mendes
(1901-1975)

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Blowing in the wind


Blowin' In The Wind - na doce voz de Joan Baez acompanhada de um primitivo violão...

Composição: Bob Dylan

Blowin' In The Wind

How many roads must a man walk down,
Before you call him a man?
How many seas must a white dove sail,
Before she sleeps in the sand?
Yes and how many times must cannonballs fly,
Before they're forever banned?
The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind

Yes and how many years can a mountain exist,
Before it's washed to the seas (sea)
Yes and how many years can some people exist,
Before they're allowed to be free?
Yes and how many times can a man turn his head,
Pretend that he just doesn't see?
The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind.

Yes and how many times must a man look up,
Before he can see the sky?
Yes and how many ears must one man have,
Before he can hear people cry?
Yes and how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind

Soprando No Vento

Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?
Quantos mares precisará uma pomba branca sobrevoar,
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim e quantas vezes precisará balas de canhão voar,
Até serem para sempre abandonadas?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Sim e quantos anos pode existir uma montanha
Antes que ela seja lavada pelo mar?
Sim e quantos anos podem algumas pessoas existir,
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça,
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Sim e quantas vezes precisará um homem olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim e quantas orelhas precisará ter um homem,
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim e quantas mortes ele causará até ele saber
Que muitas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento...

Fonte: http://letras.terra.com.br/bob-dylan/11904/

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Stand by me

Stand by me


Quando você chegar por aqui, clique com o mouse sobre o endereço abaixo e emocione-se com uma linda canção cantada e tocada por diversos artistas de várias partes do nosso planeta Terra.
Ideia genial que ainda não sei de quem foi.
Experimente.

http://vimeo.com/moogaloop.swf?clip_id=2539741

Vídeo indicado por meu querido amigo Kappa.

Com carinho.

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um modo de ver


ELOGIO AO SILÊNCIO nº 8.

No mundo de urgências em que vivemos
O homem vaga entre a desordem das lembranças e as urgências da vida.

E a arte é uma forma de resistência a essa aceleração.
Uma espécie de pausa, de acostamento que fazemos
Nos caminhos, nas estradas,
Para ver a paisagem que, de outra maneira, passaria incessantemente.

A cultura tem sofrido esgarçamento.
O que está ameaçado?
O que foi suprimido do homem?
O que foi roubado de sua identidade?

Sergio Fingerman. Elogio ao Silêncio e Alguns Escritos Sobre Pintura. [Fotografias de Sergio Guerini, Juan Esteves]. – São Paulo, BEI ("Um pouco mais", em tupi.) Comunicação, 2007, p. 27.

Imagem: Leda Lucas
Poema: Sergio Fingerman

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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Das imagens

25.

Wall In Paris, Texas

(Wim Wenders – A propósito de uma fotografia de parede)


If I had had a hammer,
I would have tried
to chip off more from that stucco
and uncover the entire precious fresco
underneath.
But I only had a camera.


Tradução: www.tradukka.com


Se eu tivesse um martelo,

Eu teria tentado

quebrar o estuque

e descobrir o afresco precioso

embaixo.

Mas eu só tinha uma câmera.


"(...) Mas voltemos a devaneios mais curtos, solicitados pelo detalhe das coisas, por traços reais à primeira vista insignificantes. Quantas vezes não se tem mencionado que Leonardo da Vinci aconselhava os pintores com falta de inspiração diante da natureza a contemplarem com olhos sonhadores as fissuras de uma velha parede? Não haverá um plano de universo nas linhas que o tempo desenha na velha murada? Quem já não viu, em algumas linhas que aparecem num teto, o mapa do novo continente? O poeta sabe tudo isso. Mas, para expressar à sua maneira o que são esses universos criados pelo acaso nos confins de um desenho e de um devaneio, ele vai habitá-los. Encontra um canto onde permanecer nesse mundo do teto fendido."

Gaston Bachelard. Em Capítulo VI – Os Cantos – V– p. 152. No livro A Poética do Espaço. Tradução: Antonio de Pádua Danesi. São Paulo, Martins Fontes, 2003.

Imagem: Wim Wenders

Texto 1: Wim Wenders

Texto 2: Gaston Bachelard.

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ausência


Chega um dia
e um silêncio longo
desaba

Há inúmeros rumores
e o humor amargo
nas bordas da língua
mínguam esperanças

Não se sabe o rumo

As flores insistentes
pendem dos batentes
e guardam sementes

Imagem: Leda Lucas
Poema: Leda Lucas

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