segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

No interior da Bienal

"[...] a fenomenologia da imaginação poética permite-nos explorar o ser do homem como o ser de uma superfície, da superfície que separa a região do mesmo e a região do outro. Não esqueçamos que, nessa zona de superfície sensibilizada, antes de ser é preciso dizer. Dizer, se não aos outros, pelo menos a si mesmo. E sempre avançar. Nessa orientação, o universo da palavra comanda todos os fenômenos do ser – os fenômenos novos, bem entendido. Pela linguagem poética, ondas de novidade correm sobre a superfície do ser. E a linguagem traz em si a dialética do aberto e do fechado. Pelo sentido, ela se fecha; pela expressão poética, ela se abre.
[...], na superfície do ser, nessa região em que o ser quer se manifestar e quer se ocultar, os movimentos de fechamento e abertura são tão numerosos, tão frequentemente invertidos, tão carregados de hesitação, que poderíamos concluir com esta fórmula: o homem é o ser entreaberto.
[...], quantos devaneios seria preciso analisar sob esta simples menção: A Porta! A porta é todo um cosmos do Entreaberto.
[...] Por que não sentir que na porta está encarnado um pequeno deus dos umbrais? [...] Porfírio disse bem: 'O umbral é uma coisa sagrada.'"
Gaston Bachelard. A Poética do Espaço. Tradução: Antonio de Pádua Danesi. São Paulo, Martins Fontes, 2003, págs. 224 e 225.
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Imagem: Leda Lucas
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