segunda-feira, 26 de abril de 2010

A idade da escrita


UM RIO DE LUZ

Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca

No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta

Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido

[O pavão negro, 2003]

Ana Hatherly. In: A idade da escrita E OUTROS POEMAS. Organização e prólogo Floriano Martins. São Paulo, Escrituras, 2005, p. 86

Imagem: Nascente do Tejo na Espanha (lá conhecido como Tajo) - Panorâmio
Poema: Ana Hatherly (digitado por Leda Lucas)

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Pinacoteca de São Paulo


Hoje, dia 25 de abril de 2010, fui ver esta exposição de fotografias de árvores de São Paulo, numa tarde de outono, quando no céu o sol não se definia entre continuar atrás das nuvens de um lado da cidade ou aparecer ameno-dourado sobre um tanto de cabeças na região da Luz.
Tanta gente! De ver cidade. Diversas idades...
Diversidade.
Ainda na rua, mais precisamente na Avenida Tiradentes, ao estacionar o carro, com o pé na calçada avistei uma paineira com quase nenhuma flor, mas as pouquinhas que havia eram tão...
Enormes! Estrelas cor-de-rosa e branca presas a galhos negros contra um céu cinzento e azul.
Depois, lá dentro, muita gente entrando e saindo, pois o que as motivou irem até lá: Andy Warhol. Mas a exposição do artista era no prédio ali próximo, no Estação Pinacoteca.
Descemos (Zé Carlos e eu) para o subsolo do prédio e, uma vez lá, as fotografias das árvores em exposição encheram de poesia minha tarde.
Parabéns, senhor fotógrafo! E, também, àqueles que o ajudaram na revelação da alma da Natureza.

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Um livro foi publicado pela Imprensa Oficial sob o título “Raízes: Árvores na paisagem do Estado de São Paulo” que é resultado de mais de um ano de pesquisa e cerca de 16 mil quilômetros percorridos em 4 meses, nos quais Valdir Cruz e sua equipe passaram por estradas, fazendas, beiras de rios e trilhas, muitas vezes com ajudas de mateiros. O autor explica que a ideia do projeto não era fotografar qualquer árvore, ele queria exemplares representativos, que tivessem algo a dizer. Todas têm quase 100 anos ou mais, o que pode ser percebido pelas suas dimensões e beleza. Para chegar até elas, Valdir teve a ajuda da paisagista Renata Tilli na pesquisa.

Valdir mora há mais de 30 anos nos Estados Unidos, mas mantém as raízes na escolha dos temas de vários de seus livros e exposições. Desta vez ficou quase um ano no Brasil para chegar à seleção que integra o livro. Ele tornou-se um “caçador de árvores”, tendo percorrido 30 cidades paulistas, de Itaberá a Cunha, de Rifaina e Ibitinga, de Estiva Gerbi a Santa Fé do Sul. Durante a jornada, fotografou 120 árvores, de 80 espécies diferentes, num total de mais de 750 cliques. A obra conta ainda com um ensaio do escritor Ignácio de Loyola Brandão.

Imagem: uol (a partir de pesquisa no google)
Texto: Leda Lucas