sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Hexagrama 27.I


As Bordas da Boca (Prover Alimento)

Os governantes do hexagrama são o seis na quinta posição e o nove ao alto.
O Comentário sobre a Decisão refere-se a eles quando diz:
"Ele alimenta os homens de valor e assim abrange o povo inteiro".

SEQUÊNCIA

Quando as coisas são firmemente retidas, há alimentos. Por isso a seguir vem o hexagrama: AS BORDAS DA BOCA. As Bordas da Boca significa prover alimento.

JULGAMENTO

AS BORDAS DA BOCA. A perseverança traz boa fortuna. Preste atenção à nutrição e àquilo que o homem procura para encher sua própria boca.

IMAGEM

O trovão na base da montanha: a imagem da NUTRIÇÃO. Assim, o homem superior é cuidadoso em suas palavras...

Transcrevi este trecho (adaptado) do I ching - O Livro das Mutações (prefácio de C. G. Jung) de Wilhelm Reich, editora Pensamento, para não deixar escapar minha "tartaruga mágica" e olhar para mim "com os lábios caídos."

Imagem: Leda Lucas
Texto (adaptado): do livro I ching, cujo fragmento foi digitado por mim.
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Pátio de tarde


"Toby gosta de ver a garota loura passar pelo pátio. Levanta a cabeça e dá uma mexida, mas depois fica bem quieto, seguindo com os olhos a fina sombra que por sua vez vai seguindo a garota loura pelas pedras do pátio. No quarto está fresco, e Toby detesta o sol da sesta; nem sequer gosta de ver as pessoas acordadas a essa hora, a única exceção é a garota loura.
Para Toby a garota loura pode fazer o que bem entender. Dá outra mexida, satisfeito por tê-la visto, e suspira.
É simplesmente feliz, a garota passou pelo pátio, ele a viu por um instante, seguiu sua sombra pelas pedras com seus grandes olhos avelã.

Talvez a garota volte a passar.
Toby suspira de novo, sacode um pouco a cabeça como se estivesse espantando uma mosca, enfia o pincel no pote e continua mexendo a cola para passá-la na madeira."

Referência bibliográfica: CORTÁZAR, Julio. 1914-1984
Último Round, tomo I; tradução: Paulina Wacht, Ari Roitman. – Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2008. p. 40

Explicando: Hoje fui ver a exposição de J. Borges (Do Cordel à Xilogravura) na Caixa Cultural, na Praça da Sé, em São Paulo.
No ônibus, li o conto de Julio Cortázar que tem uma personagem chamada Toby. O final do conto des(consertou-me) a narrativa.
Tenho três irmãs e todas têm gatos. Uma delas tem um gato cujo nome é exatamente Toby. Então, enquanto lia o texto, lembrava-me o tempo todo do lindo gato da Fátima. Descartei a ideia de ser um gato, dado o fantástico da narrativa.
Na Caixa Cultural há quatro exposições no momento e uma delas é sobre a obra de John Graz com obras em gravura, litogravura, desenhos, escultura; muito sensível... Não conhecia o artista e gostei muitíssimo de conhecer seu trabalho.
Porém, a surpresa: a terceira obra que vi era sabe o quê? Um gato pintor com a paleta e o pincel na pata (?) desenhado no verso de uma carta remetida a uma irmã. Amei este encontro.

Imagem: Leda Lucas (a partir de obra de John Graz)
Texto: Pátio de tarde - Autor: Julio Cortázar (digitado por Leda Lucas)
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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Visita inesperada


Não aguardava naquela noite nenhuma visita. Arrumei-me com os meus e via o tempo passando pela sala de estar de casa. Uma noite quente destas do último verão; janelas amplamente abertas. Brisa muito leve a não vencer a luz de néon da TV - quase sempre ligada para o apetite destes tempos de Discovery ou jogo de futebol.
Não entram na programação da casa os episódios de BBB (inutilidade sem nenhuma poesia, viu Manoel de Barros?!) ou algum outro medíocre programa.
Lua e Clara iam e vinham felinamente; esparramavam-se nas passagens a fim de um ventinho que fosse, nos vãos... A misteriosa planta enroscando-se em troncos alheios com muitos volteios e já no teto.
Eu, com pouca luz e barulho, na sala com os meus! Não via nada na senhora da casa, há muito tão dona do horário nobre da noite.
E foi, então, que procurando alguma saída para o momento, notei que não éramos apenas três na casa e mais dois felinos. Havia um visitante, que se instalara a um canto e deixou-me inteira na noite que tinha, por certo, perdida.

Imagem: Leda Lucas
Crônica: Leda Lucas
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Milton Nascimento - aspectos de biografia


Postado por Djonasz em 14 de maio de 2007.

Mais um outro vídeo com o inominável Milton Nascimento.
Descobri hoje, na internet, este vídeo do músico com o jornalista Chico
Pinheiro. A entrevista é tão emocionante!
Ressalto aqui a importância do rádio na formação musical de muita
gente em nosso país. E Milton conta emocionado que o momento de
travessia em sua vida foi quando ouviu Ray Charles no rádio. A voz do
artista entrou para sempre em sua alma.
Aí está mais um pouco da vida musical do Brasil que amo.


Áudio e imagem: YouTube

Texto: Leda Lucas

Travessia


Milton live, singing the most beautiful song ever written by
Fernando Brant, with Wagner Tiso on the piano.

Postado por Djonasz, em 18 de maio de 2007.


Letra

Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant)


Quando você foi embora fez-se noite em meu viver

Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar

Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar

Estou só e não resisto, muito tenho prá falar


Solto a voz nas estradas, já não quero parar

Meu caminho é de pedra, como posso sonhar

Sonho feito de brisa, vento vem terminar

Vou fechar o meu canto, vou querer me matar


Vou seguindo pela vida me esquecendo de você

Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver

Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer

Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver


Solto a voz nas estradas, já não quero parar

Meu caminho é de pedra, como posso sonhar

Sonho feito de brisa, vento vem terminar

Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar


Fonte: YouTube (by: la' Music Stúdio)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Depois da chuva


POÇAS D'ÁGUA


As poças d'água na calçada esburacada – não, isto não é um protesto: é, a seu modo, uma espécie de poema, que por sinal já saiu rimando... Fosse uma reclamação, eu a publicaria no "Correio do Leitor", seção competente onde cada um exerce o direito da sua opinião privada sobre a coisa pública. As poças d'água na calçada, como eu ia dizendo, são, em meio ao tráfego congesto, o único esporte que resta ao viandante na contingência de lhes saltar por cima ou devidamente contorná-las. Há velhinhas – quem diria? – que sabem transpô-las com infinita graça, equilibrando no alto a sombrinha como a moça do arame no circo. Há graves senhores pançudos, que o fazem cuidadosamente, eficientemente, com uma perfeição que justifica o seu status. E há também os sujeitos, nada pançudos, nada graves, antes pelo contrário, e que nos fazem lembrar os chamados “salta-pocinhas” do Segundo Império. Quanto às crianças, essas adoram as poças d'água... Nem é necessário alegar, a seu respeito, uma compulsiva comunhão com a natureza.

Comunhão com a natureza tive-a eu, quando uma noite caí de borco ao praticar esse esporte e fui parar no Pronto-Socorro, de nariz quebrado. A moça otorrino que gentilmente me atendeu mostrou-se preocupada com o meu vômer, que eu não sabia o que era. Explicou-me que se tratava do osso que dividia as fossas nasais. Quanto aos outros, os da ponta do nariz, eram os distais e, se fossem os vitimados, não tinha importância, pois acabariam acomodando-se por si mesmos.

Como vês, leitor amigo, a vida é assim: caindo e aprendendo... E, caso me ocorram outros acidentes, acabarei enfim sabendo anatomia, matéria que faz muito tempo que não estudei nos bancos escolares.

Mas o que me deixou mesmo mais eufórico foi ao ler no boletim clínico que toda aquela sangueira nas ventas tinha o nome de epistaxe. Epistaxe, meu Deus! Até parece uma figura de retórica...


As poças d'água são um mundo mágico

Um céu quebrado no chão

Onde em vez das tristes estrelas

Brilham os letreiros de gás Néon.


QUINTANA, Mario. In: Prosa e verso/Mario Quintana. 7ª ed. São Paulo, Globo, 1997, p. 147 e 148.


...os meninos, Mario querido, continuam a passar por sobre as poças d'água, mesmo você estando escondido nas dobras do tempo. Veja só. E eles são 10!

Saudades de você; viu? Ainda bem que você escreveu e eu aprendi a ler e a gostar de poesia.

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Imagem: Leda Lucas

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Angelus et Mariae

Anunciação


Artista: Sandro Botticelli (1445-1510)

Dados da obra: Cestello Annunciation - 1489-90

Tempera on panel, 150 x 156 cm

Galleria degli Uffizi, Florence


A pintura renascentista florentina, que se iniciara com artistas como Fra Angélico e Masaccio, adquiriu na segunda metade do século XV, com Botticelli, um caráter refinado, melancólico e elegante, afastado das buscas científicas do princípio do século.


Fonte: Google (http://www.wga.hu/index1.html)


IF...


E até hoje não me esqueci

Do Anjo da Anunciação no quadro de Botticelli:

Como pode alguém

Apresentar-se ao mesmo tempo tão humilde e cheio de tamanha dignidade?

Oh! tão soberanamente inclinado...

Se pudéssemos ser como ele!

Os Anjos dão tudo de si

Sem jamais se despirem de nada.


QUINTANA, Mario. In: Prosa e verso/Mario Quintana. 7ª ed. São Paulo, Globo, 1997, p. 126.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O artista






artista é chama
ardente luz
no azul(((o)))ceano

escreve
esculpe
pinta

palavras nadam


Imagem: Leda Lucas
Poema: Leda Lucas

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Muito além da história




Recebi de uma amiga o link acima apresentando-me Chimamanda Adichie, com a expressão de espanto que todos temos quando nos deparamos com a consciência de que fomos e somos criados por uma "história única".
Aí está uma linda mulher africana a nos contar sobre como ela foi ampliando o seu modo de contar para SER junto de todos os povos do continente africano.
E contou-nos ainda mais sobre seu modo de contar sobre os povos de outras nações.

Obrigada, amiga Margaret, por oferecer-me a oportunidade de ampliar minhas histórias.

Vídeo: YouTube
Texto: Leda Lucas

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Encontro de amigos

Era um domingo de carnaval e como não somos de ir para avenida sambar, escolhemos (Zé carlos e eu) ficar entre amigos.
E foi assim que reencontrei meus queridos amigos e seus filhos na casa de Cecília e João e Luiza e Pedro, os moradores; o Edu e Cris e seus filhos Nanda e Léo; o Tião -e seu irmão Lucas- e Dilma, Ivan e Dalva e Ophelis.
Vários deles, eu havia encontrado em dezembro último, mas alguns havia já bastante tempo que não os via e outros eu nem conhecia.
De qualquer forma, foi um domingo bom de viver.
A imagem ao lado, eu a fiz para registrar o clima de afetividade que envolveu todo o nosso encontro.

Imagem: Leda Lucas
Texto: Leda Lucas

E para comemorar a inesquecível tarde, um poema de Mario Quintana.

A surpresa de ser


A florzinha

Crescendo

Subia

Subia

Direito

Pro céu

Como na História de Joãozinho e o Pé de Feijão.

Joãozinho era eu

Na relva estendido

Atento ao mistério das formigas que trabalhavam tanto...

E as nuvens, no alto, pasmadas, olhavam...

E as torres, imóveis de espanto, entre voos ariscos

Olhavam, olhavam...

E a água do arroio arregalava bolhas atônitas

Em torno de cada pedra que encontrava...

Porque todas as coisas que estavam dentro do balão azul daquela hora

Eram curiosas e ingênuas como a flor que nascia

E cheias do tímido encantamento de se encontrarem juntas,

Olhando-se...


Quintana, Mário (1906-1994). In: Prosa & Verso. São Paulo, Ed. Globo, 1997, 7ª ed. p. 122


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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Saiba


Toda parte

Saiba que em algum lugar
uma flor abriu-se
uma criança morreu
e outras foram salvas.

Uma mãe chorou
marido trouxe-lhe uma flor
o filho não voltou.

Uma mulher anda
com sua cria de porta em porta
pelos hospitais à procura de vaga
onde dar a luz.

Também é possível
que uma vaga lembrança
toma todo o sentimento
do homem
um gesto
da sempre presença
– num momento qualquer de sua existência,
a horta cheirava a hortelã
e o pintassilgo cantava em algum lugar.

Poema: Leda Lucas
Vídeo: YouTube (postado por tipocoisaetal, em 10 de dezembro de 2006), clip "do melhor compositor, letrista, cantor e performer em palco do Brasil !!!".

Saiba


Compositor: Arnaldo Antunes


Saiba: todo mundo foi neném

Einstein, Freud e Platão também

Hitler, Bush e Sadam Hussein

Quem tem grana e quem não tem


Saiba: todo mundo teve infância

Maomé já foi criança

Arquimedes, Buda, Galileu

e também você e eu


Saiba: todo mundo teve medo

Mesmo que seja segredo

Nietzsche e Simone de Beauvoir

Fernandinho Beira-Mar


Saiba: todo mundo vai morrer

Presidente, general ou rei

Anglo-saxão ou muçulmano

Todo e qualquer ser humano


Saiba: todo mundo teve pai

Quem já foi e quem ainda vai

Lao Tsé Moisés Ramsés Pelé

Ghandi, Mike Tyson, Salomé


Saiba: todo mundo teve mãe

Índios, africanos e alemães

Nero, Che Guevara, Pinochet

e também eu e você


http://vagalume.uol.com.br/arnaldo-antunes/saiba.html

As árvores


Uma nova árvore entrou em minha vida. Conheço tão pouco sobre árvores.
Mas o meu amor, a minha eterna gratidão, consolida-se todo dia. Como quando vejo pessoas,
animais, uma pedra, debaixo da sombra de um galho, quase sempre maltratado e, frequentemente
nem visto.
E o desejo da árvore é somente permanecer viva, florescer, dar seu fruto.
Ontem, tive a grata felicidade de conhecer mais um exemplo de resistência com flores e botões
nunca vistos.

AS ÁRVORES

Composição: Arnaldo Antunes e Jorge Ben Jor


As árvores são fáceis de achar

Ficam plantadas no chão

Mamam do sol pelas folhas

E pela terra

Também bebem água

Cantam no vento

E recebem a chuva de galhos abertos

Há as que dão frutas

E as que dão frutos

As de copa larga

E as que habitam esquilos

As que chovem depois da chuva

As cabeludas, as mais jovens mudas

As árvores ficam paradas

Uma a uma enfileiradas

Na alameda

Crescem pra cima como as pessoas

Mas nunca se deitam

O céu aceitam

Crescem como as pessoas

Mas não são soltas nos passos

São maiores, mas

Ocupam menos espaço

Árvore da vida

Árvore querida

Perdão pelo coração

Que eu desenhei em você

Com o nome do meu amor.


Letra: http://vagalume.uol.com.br/arnaldo-antunes/a-casa-e-sua.html


Texto: Leda Lucas
Vídeo: YouTube (postado por jorfers7 em 3 de novembro de 2007).

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Catavento flor


Hoje, com muito custo e vencendo a alta temperatura, resolvi que levaria os meus óculos para o oftalmologista verificar a sua confecção, pois não estou me acostumando com ele.
A Av. Rebouças no sentido centro da cidade, simplesmente não andava. A fila de ônibus era de dar sono na gente e, de fato, no ônibus, a não ser um jovem baiano que parecia muito animado com a cidade, contava enormes vantagens de sua Salvador. Apenas ele falava. Os outros modorrinhavam a morna meia tarde. Eu, inclusive.
Lia um pouquinho A volta ao dia em 80 mundos de Cortázar, na parte em que o autor comenta a arte poética com fragmentos do romance Paradiso, de José Lezama Lima, escrito em letras miudíssimas. Ah, como a gente se entrega nos detalhes do viver; não?
Um tempo muito longo passou e cheguei ao balcão da Clínica. E a fatídica pergunta: "A senhora trouxe a receita? O guarda-chuva, eu havia já me certificado de que não o trouxera. Mas, a receita há dias carrego-a comigo em um daqueles tantos estojos de óculos - este azul.
E a viagem atordoante ao interior da bolsa. E a constatação: Não trouxe, moço. Sem a receita, não dá. Está bem. Voltarei, quando?
Saí do prédio, sem ofensas. O que fazer?
Enquanto acertava-me em meu destino, subi um pouco a calçada no sentido do centro da cidade, mas o tronco de uma árvore, enfiado literalmente na calçada, chamou-me a atenção. Para que pus nele meus olhos? Era uma árvore de tronco não tão grosso e parece que ele precisou vencer alturas em busca de sol; é esguia. Mas os cachos de flor em seus galhos, as folhas, os botões. Ah, os botões: catavento-flor! Ou mandala vegetal no céu da cidade.
Fiquei em tal estado de euforia que nem consegui fazer uma boa foto.
E aí está um pedacinho de meu contentamento na tarde de hoje em que uma árvore, que segundo o porteiro do prédio da Clínica de Olhos a quem perguntei se ele sabia o nome daquela árvore, é indiana e tem mais ou menos 12 anos e que foram plantadas duas, porém apenas esta sobreviveu. E, também, contou-me que é a primeira vez que ela "bota tanta flor". Tudo isto falou-me com um sorriso no rosto todo; e que não estava ali antes.

Imagem: Leda Lucas
Crônica: Leda Lucas
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Adélia Prado e Túlio Mourão


Apresentação única na TV Manchete de dois fabulosos artistas, em vídeo postado
no YouTube por fernandolaurentys em 19 de agosto de 2008.

Adélia Prado: Adélia Luzia Prado Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 1935) é uma escritora brasileira. Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela sua fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único. Nas palavras de Carlos Drummond de Andrade: "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis". Adélia é também referência constante na obra de Rubem Alves.

Em termos de literatura brasileira, o surgimento de Adélia representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, ainda que maternal, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa; por isso sendo considerada como a que encontrou um equilíbrio entre o feminino e o feminismo, movimento cujos conflitos não aparecem em seus textos. Professora por formação, exerceu o magistério durante 24 anos, até que sua carreira de escritora tornou-se sua atividade central. (wikipedia)

Túlio Mourão: Mineiro de Divinópolis, 55 anos, Túlio é senhor de uma curiosa e rica trajetória na música brasileira. Caleidoscópica diversidade o leva do rock dos Mutantes às partituras barrocas do filme "O viajante". Das Congadas de Minas ao “Free Jazz”, do Pannis Angelicus orquestrada para Milton Nascimento aos tambores ancestrais de Mandinga. A mesma diversidade o leva ainda a ser um compositor gravado por nomes tão expressivos quanto díspares: Maria Bethânia, Bob Berg, Zimbo Trio, Nara Leão, Milton Nascimento, Tavinho Moura, Jane Duboc, Eugênia Melo Castro, Ney Matogrosso, Anthonio, Tadeu Franco, Oswaldo Montenegro entre outros. Atualmente participa da curadoria de diversos projetos, como o Festival Internacional de Jazz de Ouro Preto - TUDO É JAZZ - e apresenta o programa NOTURNO, que vai ao ar na madrugada de sexta para sábado às 00:30h, na REDEMINAS. (www.tuliomourao.com.br e www.jazzmineiro.com.br)

Poemas

A CARNE SIMPLES


Na cama larga e fresca

um apetite de desespero no meu corpo.

Uivo entre duas mós.

Uivo o quê?

A mão de Deus que me mói e me larga na treva.

Na boca de barro, barro.

Quando era jovem

pedia cruz e ladrões pra guarnecer meus flancos.

Deus era fora de mim.

Hoje peço ao homem deitado do meu lado:

Me deixa encostar em você

pra ver se eu durmo. (p.221)


(Adélia Prado)



A SERENATA


Uma noite de lua pálida e gerânios

ele viria com boca e mão incríveis


tocar flauta no jardim.


Estou no começo do meu desespero


e só vejo dois caminhos:


ou viro doida ou santa.

Eu que rejeito e exprobo


o que não for natural como sangue e veias


descubro que estou chorando todo dia,


os cabelos entristecidos,


a pele assaltada de indecisão.

Quando ele vier, porque é certo que vem,


de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?


A lua, os gerânios e ele serão os mesmos


só a mulher entre as coisas envelhece.



De que modo vou abrir a janela, se não for doida?

Como a fecharei, se não for santa? (p. 82)


CINZAS


No dia do meu casamento eu fiquei muito aflita.

Tomamos cerveja quente com empadas de capa grossa.

Tive filhos com dores.

Ontem, imprecisamente às nove e meia da noite,

eu tirava da bolsa um quilo de feijão.

Não luto mais daquele modo histérico,

entendi que tudo é pó que sobre tudo pousa e recobre

e a seu modo pacifica.

As laranjas freudianamente me remetem a uma fatia de sonho.

Meu apetite se aguça, estralo as juntas de boa impaciência.

Quem somos nós entre o laxante e o sonífero?

Haverá sempre uma nesga de poeira sob as camas,

um copo mal lavado. Mas que importa?

Que importam as cinzas,

se há convertidos em sua matéria ingrata,

até olhos que sobre mim estremeceram de amor?

Este vale é de lágrimas.

Se disser de outra forma, mentirei.

Hoje parece maio, um dia esplêndido,

os que vamos morrer iremos aos mercados.

O que há neste exílio que nos move?

Digam-no os legumes sobraçados

e esta elegia.

O que escrevi, escrevi

porque estava alegre. (p.193)


Poemas: In: Prado, Adélia. Poesia reunida. São Paulo, Siciliano, 1991.