terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Os arroios

Os arroios são rios guris...


Vão pulando e cantando dentre as pedras.


Fazem borbulhas d'água no caminho: bonito!


Dão vau aos burricos,


às belas morenas,


curiosos das pernas das belas morenas.


E às vezes vão tão devagar


que conhecem o cheiro e a cor das flores


que se debruçam sobre eles nos matos que atravessam


e onde parece quererem sestear.


Às vezes uma asa branca roça-os, súbita emoção


como a nossa se recebêssemos o miraculoso encontrão


de um Anjo...


Mas nem nós nem os rios sabemos nada disso.

Os rios tresandam óleo e alcatrão
e refletem, em vez de estrelas,


os letreiros das firmas que transportam utilidades.


Que pena me dão os arroios,


os inocentes arroios...


Mario Quintana (Baú de Espantos)

Imagem: Fotografia de Leda Lucas, de Arroyto, instalação de Monica Gonzáles, no Centro Cultural de La Casa de La Moneda, Santiago.

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Eu queria trazer-te uns versos muito lindos

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos


colhidos no mais íntimo de mim...


Suas palavras


seriam as mais simples do mundo,


porém não sei que luz as iluminaria


que terias de fechar teus olhos para as ouvir...


Sim! Uma luz que viria de dentro delas,


como essa que acende inesperadas cores

nas lanternas chinesas de papel!


Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas


do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te


e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento


da Poesia...


como


uma pobre lanterna que incendiou!


(Mario Quintana)


Estes versos foram publicados em 30 de julho de 2006, como uma

homenagem ao poeta Mario Quintana, que estaria completando 100 anos de idade, se vivo fosse.

Extraído do livro "Quintana de bolso", Editora LP&M Pocket - Porto Alegre (RS), 2006, pág. 59,

seleção de Sergio Faraco.

Imagem: revistazunai.com

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