quarta-feira, 21 de abril de 2010

O pequeno gesto de um poema


O poema é solitário.

Paul Celan



O pequeno gesto de um poema

pode abrir uma perspectiva infinita?


Quantas vezes será preciso

bater com a cabeça

para vislumbrar a graça original?


Tudo o que podemos não podemos

Tudo o que fazemos não o fazemos sós


A palavra é um duro muro:

não se move a suplicantes rogos


O poema isola o poeta

afirma-se à margem de si próprio


[O pavão negro, 2003]


Ana Hatherly – in A idade da escrita e outros poemas. Organização e prólogo Floriano Martins. São Paulo, Escrituras, 2005, p. 96


Imagem: Leda Lucas
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