segunda-feira, 27 de maio de 2013

Poesia nos dias


O Elefante
Carlos Drummond de Andrade

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira

tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.
Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.
Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.
Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.
E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.


Carlos Drummond de Andrade

(Em A Rosa do Povo)

Vídeo: YouTube

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Livros que Amei - Adriana Calcanhotto



Sensível documentário feito pelo Canal Futura sobre os livros que a artista, compositora e cantora de nossa música brasileira, Adriana Calcanhotto, ama(ou).

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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Lua Nova


Defensa de la alegría 
                        a trini

Defender la alegría como una trincheira
defenderla del escándalo y la rutina
de la miseria y los miserables
de las ausencias transitorias
y las definitivas

defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutralles y de los neutrones
de las dulces infamias
y los graves diagnósticos

defender la alegria como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas
de la retórica y los paros cardiacos
de las endemias y las academias

defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y de los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres

defender la alegría como una certeza
defenderla del óxido y la roña
de la famosa pátina del tiempo
del relente y del oportunismo
de los proxenetas da la risa

defender la alegría como un derecho
defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte
de los apellidos y las lástimas
del azar
            y también de la alegría.

Mario Benedetti. Antologia Poética. Alianza Editorial, Madrid, 1999, pág. 206

Imagem: Leda Lucas
Poema: Mario Benedetti
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Posted by Picasa

quinta-feira, 16 de maio de 2013

TV PUC - II Sarau Literário Visgo & Improviso



Publicado em 16/05/2013
Com o tema "Poesia: Liberdade e Ruptura", a segunda edição do Sarau Visgo e Improviso aconteceu no Tucarena da PUC-SP, reunindo alunos e ex-alunos da universidade para apresentarem seus trabalhos.

Reportagem: Heloisa Ramos
Categoria Educação
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quinta-feira, 9 de maio de 2013

Ilustração - Santa Rosa - Parte VII

Com a série de imagens abaixo, finalizo as postagens de ilustração de Santa Rosa para o romance Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski – um dos romances mais incríveis que já li.
Quando iniciei estes posts, o meu objetivo era contar que estava emprestando o livro que até o momento não retornou à casa.
Espero que a pessoa o leia com carinho e devolva-o.









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