quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A espera

Multidão


Mais que as ondas do largo oceano

e que as nuvens nos altos ventos,

corre a multidão.


Mais que o fogo em floresta seca,

luminosos, flutuantes, desfrisados vestidos

resvalam sucessivos,

entre as pregas, os laços, as pontas soltas

dos embaralhados turbantes.


Aonde vão esses passos pressurosos, Bhai?

A que encontro? a que chamado?

em que lugar? por que motivo?


Bhai, nós que parecemos parados,

por acaso estaremos também,

sem o sentirmos,

correndo, correndo assim, Bhai, para tão longe,

sem querermos, sem sabermos para onde,

como água, nuvem, fogo?


Bhai, quem nos espera, quem nos receberá,

quem tem pena de nós,

cegos, absurdos, erráticos,

a desabarmos pelas muralhas do tempo?


(Cecília Meireles)

In: Poesia Brasileira – Doze Noturnos de Holanda e outros poemas. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986, ps. 75 e 76.


Imagem: Leda Lucas
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Antiga estória

Pobreza

Não descera de coluna ou pórtico,
apesar de tão velho;
nem era de pedra,
assim áspero de rugas;
nem de ferro,
embora tão negro.

Não era uma escultura,
ainda que tão nítido,
seco,
modelado em fundas pregas de pó.

Não era inventado, sonhado,
mas vivo, existente,
imóvel testemunha.

Sua voz quase imperceptível
parecia cantar – parecia rezar
e apenas suplicava.
E tinha o mundo em seus olhos de opala.

Ninguém lhe dava nada.

Não o viam? Não podiam?
Passavam? Passávamos.
Ele estava de mãos posta
e, ao pedir, abençoava.

Era um homem tão antigo
que parecia imortal.
Tão pobre
que parecia divino.

(Cecília Meireles)
In: Poesia Brasileira – Doze Noturnos de Holanda e outros poemas. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986, ps. 77 e 78.
Imagem: Leda Lucas
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O Bicho

“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem”.

Manuel Bandeira, em 1947.

Imagem: Leda Lucas (em 09/2011, nas ruas da principal cidade da América do Sul).

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Annie Hall


Enviado por em 18/07/2011

Qual o poder do status social?

Em uma sociedade estratificada não somente de acordo com o capital, não basta ganhar bem. Além da divisão por classes, ainda há uma separação quanto ao capital cultural de cada um. Dizer que conhece os livros de Marshall MacLuhan, por exemplo, e que tem propriedade para falar a respeito deles já que ministra a aula de "TV, Mídia e Cultura" em Columbia é uma boa maneira de exercitar o status social e mostrar com quem estão falando. No entanto, isso é o bastante?

Um noivo neurótico na fila do cinema com uma noiva nervosa falando de problemas sexuais e com um pedante professor discursando atrás deles sobre a obra de MacLuhan não poderia desejar outra coisa: Marshall MacLuhan em pessoa para desbancar o intelectualóide e mostrar que o status não é o bastante. E quem nunca desejou ter esse poder? O nonsense tem.

Categoria:

Humor

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