segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Madredeus - Alfama (HQ)



Letra: Alfama

Lyrics by Pedro Ayres Magalhães
Music by Pedro Ayres Magalhães & Rodrigo Leão

Agora,
que lembro,
As horas ao longo do tempo;
Desejo,
Voltar,
Voltar a ti,
desejo-te encontrar;
Esquecida,
em cada dia que passa,
nunca mais revi a graça
dos teus olhos
que eu amei.
Má sorte,
foi amor que não retive,
e se calhar distrai-me...
- Qualquer coisa que encontrei.

Por amor à língua, à música: poesia.
@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

À Carlos Drummond de Andrade


O Elefante

Carlos Drummond de Andrade

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
e é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há na cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
e as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.

(In: A Rosa do Povo)

Os poemas de que gosto são tantos e, devido a isto, escolhi este.

Viva para sempre todo dia a Poesia. Obrigada Carlos Drummond de Andrade!
@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

domingo, 30 de outubro de 2011

São Francisco: rioceano

"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens."
entrevista de João Guimarães Rosa a Giinter Lorenz, em janeiro de 1965, citado em "Uma cantiga de se fechar os olhos --": mito e música em Guimarães Rosa – Página 74, de Gabriela Reinaldo - Publicado por Annablume, 2005.

Imagem: Leda Lucas, em Penedo, no estado de Alagoas.

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
Posted by Picasa

Imagem e Palavra - Constança Lucas: Uma linha pelo mundo

Imagem e Palavra - Constança Lucas: Uma linha pelo mundo: Um projeto de Alejandro Rosas http://www.alejandro-rosas.es/LINEAPORELMUNDO/LINEAS2.html "As linhas dos mapas nos separam, são linhas q...

sábado, 29 de outubro de 2011

No meio do caminho


"De distâncias levadas a cabo, de ressentimentos infiéis,
de hereditárias esperanças misturadas com sombra,
de assistências dilaceradamente doces
e dias de veio transparente e estátuta floral,
o que subsiste no meu vocabulário escasso, no meu frágil produto?"
(Pablo Neruda, Diurno doído)

Imagem: Leda Lucas
@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
Posted by Picasa

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Vestígios dos dias

"Me pergunto como pude sucumbir nesta vertigem que eu mesmo provocava e temia. Flutuava entre nuvens erráticas e falava sozinho diante do espelho com a vã ilusão de averiguar quem sou. Era tal meu desvario, que em uma manifestação estudantil com pedras e garrafas tive que buscar forças na fraqueza para não me colocar na frente de todos com um letreiro que consagrasse minha verdade: Estou louco de amor."


(Trecho de Memória de Minhas Putas Tristes, p. 75.)
Gabriel García Marquéz
Imagem: Leda Lucas
@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
Posted by Picasa

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Trecho do filme sul-coreano "Poesia" de Lee Chang-Dong


Enviado por em 18/11/2010

POESIA (Shi), Lee Chang-Dong
Coréia do Sul - 2010
------------------------------------------
Mais informações:
http://www.jc.com.br


Para relembrar um momento sensível de viver a poesia, na tela de cinema, em 2011.

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

domingo, 16 de outubro de 2011

Os poetas

Os poetas só acendem lamparinas,
Eles próprios se apagam
Estimulando os pavios.
Se a luz vital,
Inerir como sóis,
Cada era será uma lente,
Disseminando sua
Circunferência.

Poema de Emily Dickinson, a partir de transcriação de Kevin M. B. Mundy, em um manuscrito de Rubens Matuck.
O poema foi copiado pelo artista para ofertá-lo a Audrey, pessoa amiga-doce.

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
Posted by Picasa

sábado, 15 de outubro de 2011

Discurso do Prof. Dr. Antonio Candido


Para nunca me esquecer deste Dia do Professor.

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

domingo, 9 de outubro de 2011

Materiais da vida

Menino

Trouxe um menino.
Apanhei-o no bazar de ouro e prata,
onde as joias são como as folhas das mangueiras:
milhares, milhares.

Tudo ensurdecia: pulseiras, campainhas,
brincos e pingentes,
argolas para os tornozelos, correntes com guizos,
enfeites para tranças, corações com pedra sangrenta,
diamantes para a narina.

Mas eu só trouxe a criança.

Apanhei-a entre os carrinhos de comida,
grãos dourados, gomos de cana,
bolinhos fumegantes,
frutos de toda casta,
biscoitos de pistache e rosa,
açúcar em nuvens de algodão.

Trouxe o menino.
Apanhei-o entre mulheres morenas, lânguidas,
sonâmbulas.
Entre velhos de barbas imensas, que recitam versículos.
Entre mercadores distraídos, de cócoras,
que fazem subir e descer douradas balanças.

Montes verdes, azuis, vermelhos: condimentos, colírio,
e óleo de gulab, rosa, rosa,
para as tranças de seda negra.

Trouxe o meninozinho:
tem um sinal de carvão na testa
e furos nas orelhas
para muitos talismãs;
não ouvirá canto de sereia, nem sedução de demônio:
calúnia, mentira, lisonja,
ofensa ou engano das palavras humanas.

Trouxe o meninozinho – mas só na memória.
Menino que vai ser surdo, tão surdo
que jamais saberá deste meu amor.

As palavras rolarão sobre a sua alma
como pérola em veludo, sem qualquer som.

Trouxe o meninozinho nas minhas pálpebras:
um menino oriental, ainda de colo,
com olhos negros circundados de colírio,
um menino que adormece com tinidos de pingentes de prata,
balanços de camelo.
Muito pobre, muito sujinho, de muito longe,
ainda do mundo dos anjos do Oriente:
enrolado em si mesmo,
pensativa crisálida
na confusão do bazar.

Cecília Meireles. In: Doze Noturnos da Holanda e Outros Poemas. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1986, 3ª ed., pags. 110 a 112.

Imagem: Leda Lucas

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
Posted by Picasa