segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Onde há porto


Declaração


José Régio


Teorias são brinquedos

Que, por mim, não tomo a sério.

Tomo a sério os meus enredos.

Crer... só sei crer no Mistério.

De doutrinas não me importo!

Sinto-me bem no mar alto.

Só me recolho ao meu porto.

Convidam-me, e sempre eu falto.

De escolas, não sou aluno.

Se comunico, é em verso.

Sou muito diverso,

E uno.


(In "Poesia II - Obra completa ", Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001)

José Régio - biografia


Página da cidade de Vila do Conde

"José Maria dos Reis Pereira, o futuro José Régio, nasceu em Vila do Conde a 17 de Setembro de 1901 e nesta cidade faleceu a 22 de dezembro de 1969. Filho segundo do casal José Maria Pereira Sobrinho e sua mulher Maria da Conceição Reis, iniciou a Escola Primária, na Meia-Laranja, em 1908, concluindo o ensino primário em 19 de Agosto de 1913, ano em que ingressa no célebre Instituto Secundário, fundado e dirigido pelo padre José Praça, fazendo os exames respectivos no Liceu Rodrigues de Freitas. A 6 de Novembro de 1920 matriculou-se na Universidade de Coimbra, na Faculdade de Letras, instalando-se numa casa da Rua das Flores, nº 37, onde estavam outros conterrâneos, a quem «uma velhota de olhos esbugalhados cobrava o preço da pensão, contando num caderno, um a um, os ovos que lá apontava e que haviam comido «a mais» durante o mês».

Rapidamente integrado no ambiente coimbrão e nas tertúlias literárias (é em Dezembro de 1921 que pela primeira vez assina JOSÉ RÉGIO) começa a desenvolver uma intensa actividade literária, com colaboração em revistas de Coimbra e não só. Em 1925 termina o curso de Românicas, com a apresentação da tese de licenciatura: «As correntes e as individualidades na moderna poesia portuguesa». Neste mesmo ano publica o seu primeiro livro: «Poemas de Deus e do Diabo» a que a crítica da época não dedica grande atenção. Em 1927 com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, funda a revista «presença - folha de arte e crítica», cujo primeiro número viu a luz do dia a 10 de Março.
No ano escolar de 1928-29, leccionou no Liceu Alexandre Herculano, do Porto, não sendo um professor muito assíduo, diga-se de passagem e onde se relacionou com o amigo e desamigo José Marinho. Em 1929 é colocado no Liceu Nacional de Portalegre, de que hoje é patrono, onde exerceu o magistério durante mais de trinta anos.
Na «cidade do Alto Alentejo, cercada de serras, ventos penhascos, oliveiras e sobreiros...» José Régio escreveu a maior parte da sua obra, ao mesmo tempo que se dedicava nas deambulações por montes e veredas a arrecadar, para colecção, velharias de toda a espécie, com as quais encheu a sua casa da «Boavista», sobrando ainda para a de Vila do Conde. Régio escrevendo a Jorge de Sena, havia de confessar: «...não sei que estranho feitiço me prende a isto...», referindo-se à cidade que o acolhera.
Reformado do ensino em 1962, voltaria para a sua cidade natal - Vila do Conde - onde vinha nas férias escolares para se reunir com a família que sempre tanto amou e com os amigos daqui e da Póvoa de Varzim, onde também os tinha e bons.
Sete anos depois de reformado, continuando com grande intensidade a sua vida literária onde foi grande em todos os géneros que cultivou - Romance, Teatro, Novela, Conto, Crítica, Jornalismo, Ensaio, Poesia, faleceu no dia frio de 22 de Dezembro de 1969.
Os sinos da Igreja Matriz, aonde bebé de onze dias foi baptizado, dobraram a finados e a triste e dolorosa nova correu por toda a urbe: Morreu José Régio.
Hoje, ao recordarmos os 25 anos do seu falecimento, queremos que a celebração seja entendida como um hino de glória à vida de um dos mais altos expoentes da Literatura Portuguesa de sempre."

"In «José Régio - Biografia Breve», de A. Monteiro dos Santos, Novembro de 1994"

Imagem: Leda Lucas

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