domingo, 16 de maio de 2010

Museu da Língua Portuguesa


Está em cartaz aqui em São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa, a Exposição Temporária: Menas. O Certo do Errado. O Errado do Certo. Fui ao Museu na quinta-feira, dia 13/05, uma gostosa tarde de maio, com algumas amigas.

O assunto tratado na exposição é sobre questões que envolvem o preconceito linguístico e nos convida a refletir sobre a língua de todos os falantes de nossa língua materna.

Considero importante o espaço proposto à discussão sobre o assunto que até tão pouco tempo esteve reduzido ao arrogante comentário sobre a morte da língua portuguesa porque o povo não sabe falar, não lê; é inculto. Mesmo que Oswald de Andrade já houvesse há mais de 70 anos escrito um poema demonstrando que o falante comunica-se em sua língua e constroi-se com ela e nela.

Visita imperdível!

EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA

Menas. O Certo do Errado. O Errado do Certo.

Período: de 16/03/2010 a 27/06/2010

Até o dia 27 de junho, quem vier ao Museu da Língua Portuguesa poderá visitar a mostra temporária Menas: o certo do errado, o errado do certo”. Esta é a sexta exposição a ocupar o espaço das exposições temporárias, e reforça o papel do museu como importante espaço educador e difusor da língua portuguesa. 



O próprio título da exposição é uma provocação. Mesmo sabendo que “menos” é um advérbio, portanto, invariável, quantas vezes já não ouvimos a “concordância” com o gênero feminino por pessoas das mais diferentes classes e idades. Para os curadores da exposição, os professores Ataliba T. de Castilho e Eduardo Calbucci, Menas está na fronteira entre tudo o que não vale e o vale-tudo. E essa provocação é a proposta da exposição que ocupa cerca de 450 m2 do Museu da Língua Portuguesa com sete instalações para enumerar nossos “erros” linguísticos mais comuns, entender por que saímos do padrão culto e discutir a amplitude e a criatividade da língua.

*Leia o texto na íntegra no site da exposição.

http://www.poiesis.org.br/mlp/expo/menas/index.html


Praça da Luz, s/nº

Centro - São Paulo - SP

(11) 3326-0775

museu@museudalinguaportuguesa.org.br


VÍCIO DA FALA

Para dizerem milho dizem mio


Para melhor dizem mió


Para pior pió


Para telha dizem teia


Para telhado dizem teiado


E vão fazendo telhados.

(Oswald de Andrade)

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Olavo Bilac, poeta brasileiro, em linguagem próxima à de Portugal, escreveu seu amor à língua portuguesa em um soneto. Confira.


Minha Pátria, Minha Língua

Língua portuguesa

(Olavo Bilac)


Última flor do Lácio, inculta e bela,


És, a um tempo, esplendor e sepultura:


Ouro nativo, que na ganga impura


A bruta mina entre os cascalhos vela…


Amo-te assim, desconhecida e obscura.


Tuba de alto clangor, lira singela,


Que tens o trom e o silvo da procela,


E o arrolo da saudade e da ternura!


Amo o teu viço agreste e o teu aroma


De virgens selvas e de oceano largo!


Amo-te, ó rude e doloroso idioma,


em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,


E em que Camões chorou, no exílio amargo,


O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

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dbarretoivo25 de junho de 2006http://www.clipesdemusicas.net No programa do Chacrinha, Elza Soares e Caetano Veloso cantam juntos.

Categoria: Música

Palavras-chave: Elza Soares Caetano Veloso Chacrinha

Língua

Caetano Veloso

Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem.

A qualidade do vídeo deixa muitíssimo a desejar, mas rever o comunicador Chacrinha –"quem não se comunica, se estrumbica! Teresinha!!!"–, Elza Soares – carne morena voz! –, e Caetano juntos? Ainda por tudo cantando a canção Língua?! Que alegria!

Caetano Veloso, músico/poeta contemporâneo, quase um século depois, utiliza o português atual, mostrando que a língua é viva, cheia de matizes, influenciada por diversos povos que formam nossa pátria. Essas influências tornam cada língua única, mesmo que tenham raízes únicas. Com o músico Caetano Veloso as palavras correm soltas, livres...

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