quinta-feira, 25 de março de 2010

CUIDADO DEGRAU


Quando criança, eu costumava pensar em uma escada enorme que me levava até o céu, e ela subia... Subia pelas montanhas de minha terra apoiada em nuvens leves; e diáfana.
Quando eu lá chegava, sentado confortavelmente numa poltrona branca guardando a entrada de um grande portal um ancião de barbas e cabelos muito brancos, com um sorriso na face, que achava que era São Pedro. Tinha um molho de chave na mão esquerda. Depois, encontrava-me com Deus, com um rosto severo, sereno. Anjos passeavam pelo jardim de algodão cor-de-rosa a tocar harpas; infinitas.
Cresci.
Trilhei alguns caminhos.
... Agora tudo é sólido; concreto.
Mas a alma leve e transparente ainda busca alturas a fim de alcançar cores, formas, linhas, palavras.
Tudo expressão.
E eu subo, atenta e cuidadosa, cada um dos tantos degraus - um após o outro - a cada dia, e sempre levando comigo um livro, uma câmera fotográfica (digital).
Vai saber...
Acho que viver é esquisito e sinto saudades.

Azul da Infância


O olhar infantil procurava alturas

a ver o alto da escada invisível

apoiada nos tufos brancos

da nuvem alta


Queria pela escada

entrar no céu

ser recebida em caloroso

silêncio e bondade


Os degraus da escada

subiam subiam subiam

sumiam


E, então, o frio do pântano

do brejo de água de mina

na planta dos pés

assoalhava o devaneio

no azul da infância



Imagem: Leda Lucas
Textos: Leda Lucas
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