domingo, 20 de março de 2011

Cravos brancos e vermelhos



"(...) o cravo tem uma agressividade que vem de certa irritação. São ásperas e arrebitadas as pontas de suas pétalas. O perfume do cravo é de algum modo mortal. Os cravos vermelhos berram em violenta beleza. Os brancos lembram o pequeno caixão de uma criança defunta: o cheiro então se torna pungente e a gente desvia a cabeça para o lado com horror. Como transplantar o cravo para a tela?"

Clarice Lispector. Água Viva. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, 4ª ed., pág. 58
Imagem: Leda Lucas
@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
Posted by Picasa

História de uma rosa

"Estou melancólica. É de manhã. Mas conheço o segredo das manhãs puras. E descanso na melancolia.
Sei da história de uma rosa. Parece-te estranho falar em rosa quando estou me ocupando com bichos? Mas ela agiu de um modo tal que lembra os mistérios animais. De dois em dois dias eu comprava uma rosa e colocava-a na água dentro da jarra feita especialmente estreita para abrigar o longo talo de uma só flor. De dois em dois dias a rosa murchava e eu a trocava por outra. Até que houve determinada rosa."
Clarice Lispector. Água Viva. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, 4ª ed., pág. 52
Imagem: Leda Lucas
@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
Posted by Picasa