segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um gramofone na Benedito

Esta fotografia eu a fiz na minha primeira saída fotográfica programada pela professora de fotografia Inaê Coutinho, do curso Olhar Fotográfico I, do Instituto Tomie Ohtake. Lá na Praça Benedito Calixto, a gente praticaria os conceitos aprendidos em aula.
Era um sábado, de manhã bem cedo, e nos encontramos na esquina da Teodoro Sampaio com a Rua Lisboa.
Cada um de nós levou a câmera analógica (Pentax, no meu caso) e depois de conversarmos um pouco e receber orientações de abordagem ao proprietário da banca ou objeto a ser fotografado, escolher com atenção o que fotografar, acertar o filme, observar, respirar fundo... saí em busca das imagens a serem fixadas.
Uma delas foi esta. E, para mim, muito significativa, pois tem elementos importantes como a referência à música, aos livros, à pintura, à natureza... E do ser humano que sai para o mundo a fim de se encantar.
Amo esta fotografia.
Professora Inaê e colegas de curso, muito obrigada por sua presença nestes meus dias.

Imagem: Leda
Texto: Leda
Posted by Picasa

Caruso e Quintana

Esconderijos do Tempo

Pela corola do gramofone

o Caruso cantava Una Furtiva Lagrima

e ninguém levava a mal aquele tom fanhoso,

talvez porque todo o mundo sabia que ele já estava morto.

Se alguém espiasse pela goela do gramofone,

poderia ver como era o Outro Mundo,

mas ninguém olhava porque devia ser muito, muito longe

a ponto de estragar o som daquela maneira.

E o pobre do Caruso cantava que te cantava afogado pelas águas do tempo

e por isso a sua voz era ainda mais pungente:

não é brinquedo estar morto e continuar cantando.

Caruso, eu estou pensando estas coisas não aqui e agora

mas naquele Café que tu sabes, lá por volta de 1923...

Também não é brinquedo continuar vivo e ficar falando para o que passou.


Quintana, Mario. In: Antologia Poética. RJ, Ediouro,

Coleção Prestígio, 4ª edição, pág. 83.



Vídeo: www.youtube.com

A função do leitor/1


Quando Lucia Peláez era pequena, leu um romance escondida. Leu aos pedaços, noite após noite, ocultando o livro debaixo do travesseiro. Lucia tinha roubado o romance da biblioteca de cedro onde seu tio guardava os livros preferidos.
 Muito caminhou Lucia, enquanto passavam-se os anos. Na busca de fantasmas caminhou pelos rochedos sobre o rio Antioquia, e na busca de gente caminhou pelas ruas das cidades violentas.
Muito caminhou Lucia, e ao longo de seu caminhar ia sempre acompanhada pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com seus olhos, na infância.
 Lucia não tornou a ler aquele livro. Não o reconheceria mais. O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro, agora é dela.



Galeano, Eduardo. O Livro dos Abraços.
Porto Alegre: L&PM, 2000


Eduardo Galeano nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1940. Jornalista e escritor, é autor de vários livros traduzidos em mais de vinte línguas. Nesse livro ele mostra que pequenos momentos se abraçam e mexem com nossa vida, nossa memória.
Não poderia escolher outro texto porque foram tantos os livros que cresceram dentro de mim...

Fonte: http://www.themorningnews.org/archives/galleries/the_dalai_labrador_19962008/(google)

Imagem: Eduardo Galeano e Dalai Labrador (google)

Posted by Picasa