sábado, 6 de agosto de 2011

Instante de infinito

Gaston Bachelard (1884-1962) no livro a Intuição do Instante num comentário sobre a obra de Gaston Roupnel (1872-1946), transcreve:
"A Arte é a escuta dessa voz interior. Ela nos traz o murmúrio enterrado. É a voz da consciência sobrenatural que habita em nós no fundo inalienável e perpétuo. Ela nos reconduz ao sítio primordial de nosso Ser e o Lugar imenso no qual estamos no Universo inteiro. Nossa parcela miserável assume aí seu grau universal e nos entrega a autoridade que ela detém. Triunfando sobre todos os temas descontínuos que separam o Ser e compõem o Indivíduo, a Arte é o senso de Harmonia que nos restitui ao doce ritmo do Mundo e nos devolve ao Infinito que nos chama.
Então, tudo em nós se faz partícipe do ritmo absoluto em que se desenvolve o fenômeno completo do Mundo. Assim, em nosso âmago, tudo se ordena nas supremas direções, tudo se aclara sob as clarividências íntimas. As luzes assumem significado mensageiro. As linhas desenvolvem a graça de uma associação misteriosa com os acordes infinitos. Os sons desenvolvem sua melodia na via interior onde canta todo o Universo. Um amor veemente, uma simpatia universal nos busca o coração e quer ligar-nos à alma que freme em todas as coisas.
O Universo que assume sua beleza é o Universo que assume seu sentido; e as imagens desusadas que lhe emprestaríamos tombam da face absoluta que emerge do mistério."
Imagem: Leda Lucas
Texto: Gaston Bachelard. In: A Intuição do Instante. Trad. Antonio de Padua Danesi. Campinas, Verus Editora, 2007, ps. 96 e 97.
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