quinta-feira, 9 de julho de 2009

Noites juninas

Era ao redor da fogueira nos dias dos santos do mês de junho (Antonio, João, Pedro e Paulo). Lá de longe, descendo o morro, vinham vindo todos eles. Uns na frente, outros juntinhos no centro do grupo; um cachorro na frente de todos. E vinham descendo; as mulheres balançavam a saia rodada; a avó, passos curtos, presos pela saia um pouco menos, preta.

No rosto, a alegria rosada do pó-de-arroz batido à almofada rosa e do rouge com cheiro a guardado muito, pois faltava ocasião para abrir o potinho com estampa de moça na tampa. Mas o rosto. O rosto era sempre vermelho de sol ou pudor.

Vinham hoje para a fogueira na casa de alguém a quem por alguma razão estavam ligados e saíram de casa quando o sol entrava para o amanhã. Tinha iluminado tanto as dálias, de todas as cores, e as rosinhas de santa Terezinha!!! A cerca de bambu ganhou cor de ouro na tarde do santo. E nos campos, ao longo do caminho, as ervas-de-são-joão douravam todo o pasto. Era um zum-zum permanente o voo das abelhas europeias a colher o néctar do futuro mel.

Agora já se ouvia as vozes lá da casa, e avistava-se o ir e vir das mulheres envolvidas com as quitandas: biscoito de polvilho, cubu, rosquinha na forma de serpentes – S – sabendo-se celestes.

A água já fervia na trempe há horas para o quentão a animar o pagode ao som de sanfona, viola, reco-reco, cantos; às vezes um cavalo punha dentro da coberta a cabeça e cheirava o ar quente de corpos e som.

O bambu para o enfeite dos portais quedava-se folhas murchas dado o calor do dia. Mas se refariam à noite, quem sabe, sob a lua.

As crianças corriam ao redor da fogueira até ficarem zonzas de beleza e novidade. Os moços faziam mesuras de oferendas. Os adultos contariam causos, e, mostravam valentia passando descalços sobre a brasa da fogueira ainda acesa. Os velhos distribuiriam salvação ou trariam lágrimas à face de saudade de “meus tempos”.

Suas roupas eram a melhor que tinham para a festa do São João. E dançavam a quadrilha, todos, de mãos dadas no centro do mundo.

Leda