domingo, 10 de janeiro de 2010

As coisas

Jorge Luis Borges


A bengala, as moedas, o chaveiro,


A dócil fechadura, as tardias


Notas que não lerão os poucos dias


Que me restam, os naipes e o tabuleiro.


Um livro e em suas páginas a seca


Violeta, monumento de uma tarde


Sem dúvida inesquecível e já esquecida,


O rubro espelho ocidental em que arde


Uma ilusória aurora. Quantas coisas,


Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,


Nos servem como tácitos escravos,


Cegas e estranhamente sigilosas!


Durarão para além de nosso esquecimento;


Nunca saberão que nos fomos num momento.


Jorge Luis Borges nasceu em 1899 na cidade de Buenos Aires, capital da Argentina e faleceu em Genebra, no ano de 1986. É considerado o maior poeta argentino e, sem dúvida, um dos mais importantes da América Latina.

"Seu texto é sempre o de uma pessoa que, reconhecendo honestamente a fragilidade e as limitações do ser humano, nos coloca diante de reflexões nas quais, com freqüência, está presente o nosso próprio destino." (Miguel A. Paladino).


Fonte poema: http://www.releituras.com/jlborges_coisas.asp

Imagem: Leda Lucas (realizada em uma casa de tango, em Buenos Aires, no dia 19/07/2005, às 23:04. Não dancei tango neste noite!)

Chegada da luz


Ninguém sabe, nem saberá nunca
onde os pensamentos
enquanto a luz do sol
penetrava as casas da cidade

e os homens iam e vinham
nos apressados ritmos
deste tempo que corre corre
e escorrem os devaneios
nos veios da antiga madeira

Chega a luz e pousa
tranquila a mão morna
quieta e cortante
antes do céu cobrir-se
de noite


Imagem: Leda Lucas
Poema: Leda Lucas
Posted by Picasa