segunda-feira, 12 de abril de 2010

Amarílis

Amarílis,

estive no local descrito, porém não encontrei vestígios dos dias que você lá esteve. Nenhuma mesa composta, nenhum vaso com resto de bebidas, nenhuma flor nos vasos...

As cortinas, todas, suspensas e a janela da direita fechada; apenas um cão sarnento passeava por entre as cadeiras de pernas para o ar. Nem o céu auxiliou-me na busca que todo encoberto escorria de alto ao longe.

Entrei sorrateira, disfarçada, conforme você avisou-me. Mas um gato malhado saltou do muro falso onde nenhum musgo pode-se avistar. Então, em um continuum tudo ganhou vida, e espantada estaquei-me. Firmei meus olhos, ouvidos atentíssimos.

Nada!

E tudo o que você mostrou em imagens e contou com voz embargada não me foi possível vislumbrar.

Quem de nós não pode ver com os olhos da alma? Os desavisados estão melhor preparados? Onde pôr agora os meus sentimentos?

Quando puder, e urgente, responda-me, por favor.

Não sei como despedir-me, porque as despedidas, em geral, pressupõem intimidades que julgo, agora, não ter.

Nestes tempos de outono no planeta Terra.


Crônica: Leda Lucas

Imagem: Victor Lucas


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