quinta-feira, 24 de junho de 2010

Acontecimento (I)

"Veja as flores, essas fiéis da terra.
Aquele que as levasse à intimidade do sono e dormisse
profundamente com as coisas –: ó, como voltaria leve,
diferente em face do dia diferente, da comum profundeza."

(Rilke, Rainer Maria. Sonnets, I, nº XV, p. 171)
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Bachelard, em A Poética do Devaneio, " (...) para a grande renovação, seria necessário, trazer as flores para os nossos sonhos da noite. Mas o poeta nos mostra que, já no devaneio, as flores coordenam imagens generalizadas. Não simplesmente imagens sensíveis, cores e perfumes, mas imagens do homem, delicadezas de sentimentos, de calores de lembrança, tentações de oferenda, tudo o que pode florescer numa alma humana."
Mais à frente, continua.
"A cada imagem corresponde um tipo de felicidade. Não é do homem do devaneio que se pode dizer que 'está jogado no mundo'. O mundo é para ele acolhimento, e ele próprio é princípio de acolhimento. O homem do devaneio banha-se na felicidade de sonhar o mundo, banha-se no bem-estar de um mundo feliz. O sonhador é dupla consciência do seu bem-estar e do mundo feliz. Seu cogito não se divide na dialética do sujeito e do objeto."
(Bachelar, Gaston. In: A Poética do Devaneio. São Paulo, Martins Ed., ps. 151 e 152.)

As muitas imagens que povoam os dias
As diferentes leituras que acompanham o viver
São composições. Exatamente: lembranças esquecidas
Dos textos manuscritos na infância longe...

Imagem: Leda Lucas
Poema: Leda Lucas
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