quinta-feira, 29 de abril de 2010

Mais poesia nos dias




A obsidiana é um vidro vulcânico

negro com o antracite, o ônix, o azeviche.

Antes de ser vidro, porém, foi lava ardente

pedra líquida

vômito das profundezas

válvula de escape

massa de bolo cru

concha de pedra que estala

revelando o seu recheio

que escorre ácido e fétido

como tumor que arrebenta.

Explosão de estupenda cor

jato feérico, pirotécnico

solta estrelas vivas

fogo de ouro

que cintila contra o céu que ferve

raivoso ao contato com o mar.

Quando por fim arrefece e se transforma em cinza

a obsidiana concentra-se

e do nada faz o seu diamante.

[O pavão negro, 2005]

Ana Hatherly. In: A idade da escrita E OUTROS POEMAS. Organização

e prólogo Floriano Martins. São Paulo, Escrituras, 2005, p. 94

Imagem: google

Poema: Ana Hatherly – digitado por Leda Lucas

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