sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Devaneios do infinito

"Essa é minha floresta ancestral. Tudo o mais é literatura."
Gaston Bachelard
"Em L'amoureuse initiation (p. 64), Milosz escreve: 'Eu contemplo o jardim de maravilhas do espaço com o sentimento de olhar o mais profundo, o mais secreto de mim mesmo; e sorria, pois nunca me imaginara tão puro, tão grande, tão belo! Em meu coração irrompeu o canto de graça do universo. Todas essas constelações são tuas, estão em ti; não têm qualquer realidade fora do teu amor! Ah, como o mundo parece terrível para quem não se conhece! Quando te sentires sozinho e abandonado diante do mar, imagina como devia ser a solidão das águas na noite, e a solidão no inverno sem fim!' E o poeta continua esse dueto de amor do sonhador com o mundo, fazendo do mundo e do homem duas criaturas esposadas, paradoxalmente unidas no diálogo de sua solidão.
Em outra página, numa espécie de meditação-exaltação, unindo os dois movimentos que concentram e dilatam, Milosz escreve (op. cit., p. 151): 'Espaço, espaço que separa as águas, meu alegre amigo, como te aspiro com amor! Eis-me, pois, como a urtiga florida ao sol ameno das ruínas, e como o calhau no gume da fonte, e como a cobra no calor do capim! O quê? O instante será realmente eternidade? A eternidade será realmente instante?' E a página prossegue ligando o ínfimo ao imenso, a urtiga branca ao céu azul. Todas as contradições agudas, como o calhau cortante e a água clara, são assimiladas, aniquiladas, no momento em que o ser que sonha ultrapassa a contradição entre o pequeno e o grande. Esse espaço de exaltação transpõe qualquer limite (p. 155): 'Desabem, limites sem amor dos horizontes! Apareçam, distâncias verdadeiras!' E na página 168: 'Tudo era luz, doçura, sabedoria; e no ar irreal o distante acenava para o longínquo. Meu amor envolvia o universo.'"
Gaston Bachelard. A Poética do Espaço. Tradução: Antonio de Pádua Danesi. São Paulo, Martins Fontes, São paulo, 2003, ps. 194 e 195.
Imagem: Leda Lucas (vista do mirante da Ilha Porchat, em São Vicente - SP)
Texto: Gaston Bachelard, com citações sobre o autor Milosz.
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Do amor à linguagem


Esta fotografia é de Steve McCurrie, o mesmo autor da foto da menina e depois mulher afegã, que foi capa da National Geografic, e admirada pelo mundo todo.
Aqui tem-se um homem que, enquanto aguarda o cliente, mergulha no universo da leitura.
Em um ensaio intitulado Sobre os Clássicos, Jorge Luis Borges escreveu:
"Clássico é aquele livro que uma nação ou o largo tempo decidiram ler como se em suas páginas tudo fosse deliberado, fatal, profundo feito o cosmos e sujeito a interpretações sem fim." (Jorge Luis Borges).
E no conto La biblioteca de Babel, que foi publicado pela primeira vez em El jardin del senderos que se bifurcan (1942) e está incluido desde 1944 em Ficciones, a primeira linha do conto é suficientemente explícita:
O universo (que outros chamam biblioteca)...

Para falar do amor à escritura, à leitura, aos livros.

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